O Sentimento Esportivo e a Educação
Rendimento
escolar e rendimento esportivo para crianças: uma breve análise
Como trabalhar a
paixão esportiva em benefício da vida escolar de jovens que são envolvidos na
prática do futebol em escolinhas de iniciação e são movidos pelo sonho da
profissionalização?
Jorge Efrahim
Magalhães Berto*
O Brasil é o
país do futebol onde uma paixão, que contagia milhões de pessoas em volta de um
clube ou da nossa seleção, vem sendo transmitida de geração em geração; é muito
comum encontrarmos situações diversas como a de pais que acompanham a emoção
esportiva dos seus pais, filhos que transmitem o mesmo sentimento a seus
filhos, sentimento este que mobiliza diversos pontos de discussão gerando
debates acalorados e provocadores. Na medida em que a paixão transmitida de pai
para filhos, de geração a geração contagia, em alguns casos enlouquece,
bastando observar as reações das pessoas diante de finais de campeonato,
sentimentos e emoções explicitamente demonstrados, bem observados nos anos que
se realizam as Copas Mundiais de Futebol. Como explicar esta paixão? Esta
maneira de estar ligado a uma modalidade esportiva?
“Marcel Mauss
afirma que, pela imitação, os indivíduos de cada cultura constroem seus corpos
e comportamentos [...] Esse corpo, que pode variar de acordo com o contexto
histórico e cultural é adquirido pelos membros da sociedade por meio da
imitação prestigiosa. Os indivíduos imitam atos, comportamento e corpos que
obtiveram êxito e que são bem-sucedidos”. (Anjos, J.L. Educação Física, Corpo e
Movimento, 2009, p.23)
Encontram-se aí
envolvidos os aspectos históricos derivados de um esporte, como em um processo
sócio-cultural.
“Ao transformar
a natureza, os homens criam cultura, refinam, cada vez mais, técnicas, instrumentos
– saber, enfim – e ao transformar a si mesmos: desenvolvem as suas funções
mentais (percepção, atenção, memória e raciocínio) e a sua personalidade (sua
maneira de sentir e atuar no mundo).” (Chicon, F. Educação Física, Aprendizagem
e Desenvolvimento Humano, 2009, p. 11)
Como trabalhar
essa paixão esportiva em benefício da vida escolar de nossas crianças que
apreciam e são envolvidas na prática do futebol em escolinhas de iniciação e
que são movidos pelo sonho de um dia tornarem-se um jogador de futebol?
O abandono
escolar é significativo do valor demonstrado por esta prática esportiva, como a
repetência na escola; ao lado da presença na escola por imposição dos pais,
convivem com o ideal de tornarem-se jogadores em grandes clubes e com retorno
econômico fácil. Como motivar a vida escolar e provocar uma reflexão crítica da
situação?
A opção por esse
tema é a crença de que há importância em um bom rendimento escolar na vida das
crianças, que muitas vezes não percebem a pseudo-ilusão a respeito da vida dos
jogadores de futebol e que são influenciadas pela mídia, que expõe uma pequena
porcentagem da real vida destes atletas; justifico desta forma o interesse
particular em relatar uma realidade próxima, tema este que, proporcionado por
experiência pessoal, por ter feito parte dessa realidade, se torna essencial.
A motivação para o rendimento escolar
A motivação para o rendimento escolar
O termo
“rendimento” se aplica em áreas diversas, o que não deixa de ser interessante
na medida em que o encontramos direcionado à Economia, à Educação e ao treinamento
físico.
Paralelamente
também encontramos em Figueiredo (2009, p.12) citando Pimenta (2000) que os
caminhos de superação de um professor acontecem quando as necessidades
pedagógicas são postas pelo real ou dia a dia escolares.
A experiência
acumulada em um professor e sua visão do mundo é importante e principalmente
porque o sistema esportivo é alimentado pela mídia; encontramos em Bracht
(2009) que nada é feito “[...] na perspectiva de orientar as políticas
esportivas nacionais com vistas a garantir a plena cidadania dos indivíduos no
plano das práticas corporais do movimento [...] “(Educação Física e Escola,
p.55)
O todo desta
problemática é importante, na medida em que serve de alerta, para que as
crianças, que não terão a oportunidade de fazer uma carreira profissional
futebolística, possam direcionar-se em outro rumo, de forma bem sucedida e
menos dramática, da que acontece com muitos jogadores, que hoje sofrem com a
realidade de terem optado por abandonar os estudos confiando no sucesso, fama e
retorno financeiro que não conseguiram.
A nossa
responsabilidade como professores é evidenciar a realidade existente às
crianças em idade escolar, e a de despertar o interesse e motivação cultural e
intelectual com o intuito de deixá-los mais conscientes e críticos para com a
realidade do mundo do futebol, que não é evidenciado pela mídia, provocativa da
mistura de sentimentos e sonhos das crianças, iludindo-as para uma realidade
que, mesmo que não seja impossível, é muito difícil de alcançar.
Por outro lado,
há exemplos de vários jogadores com uma vida escolar em nível acadêmico
superior, que conseguiram conciliar a carreira com os estudos – é uma forma de
exemplificar a necessidade de se resguardar perante o futuro com a
possibilidade de dar continuidade a uma vida de forma estruturada, evitando as
surpresas desagradáveis que muitos jogadores não pensam quando estão atuando.
Exemplos de
atletas profissionais como Tostão, Sócrates, Falcão e Rogério Ceni, podem
servir de parâmetro à necessidade de um rendimento escolar. Particularmente,
lembranças pessoais trazem à memória a imposição de um bom rendimento na escola
e o conhecimento de notas para que os treinamentos fossem levados adiante,
alertando para a realidade da época em que o 2º grau era questão de sobrevivência,
o que em nossos dias transformou-se para a importância de uma formação
superior, devido ás exigências do mercado, onde a tensão mostra-se, não pela
nota em si, mas pela possibilidade de ficar fora dos treinamentos.
Como usar
exemplos de jogadores profissionais para estimular as crianças, que ainda estão
em formação escolar?
Os ex-jogadores
que encerram a vida esportiva muitas vezes não têm a oportunidade de continuar
nos campos como diretores, supervisores ou treinadores. Na maioria das vezes
não têm nem o direito de escolha, aceitando, assim, a primeira oportunidade de
trabalho que aparece. Poderiam estes exemplos estimular atletas que ainda estão
em formação, a explorarem como motivação o não seguimento do mesmo caminho? A
vivência prática de um ex-jogador de futebol não proporciona nenhuma garantia
de entidades, clubes ou mesmo do governo, que assegure uma continuidade em sua
área de atuação.
Órgãos de
controle, como o CREF, os taxam de leigos e os interditam de exercer a
profissão por não serem formados em Educação Física, desprezando todo o
aprendizado que receberam na prática.
Encontramos em
Bracht (2009) que,
“[...] no
intuito de realizar o Panamericano na cidade do Rio de Janeiro, não foram
apresentados motivos educacionais, da saúde e, por incrível que pareça
esportivos. Os motivos estão atrelados ao plano econômico: fomento do turismo;
melhoria na infra-estrutura da cidade; geração de empregos; construção de
estádios e arenas que no futuro, alimentarão negócios esportivos, etc...”
(Educação Física e Escola, p.54)
Mas como usar
esses exemplos para estimular nossos atletas que ainda estão em formação a
explorarem esses exemplos e se motivarem a não seguir o mesmo caminho?
Algumas crianças
com um simples diálogo entendem a mensagem e se esforçam mais na vida escolar;
outros só entendem debaixo de imposição e até mesmo com alguns castigos. Uma
forma de autoritarismo versus autoridade familiar.
A nossa
responsabilidade como professores é evidenciar a realidade existente em
crianças em idade escolar, é a de despertar o interesse e motivação cultural e
intelectual com o intuito de deixá-los mais conscientes e críticos para com a
realidade do mundo do futebol, que não é evidenciado pela mídia, provocativa da
mistura de sentimentos e sonhos infantis, iludindo-as para uma realidade que,
mesmo que não seja impossível, por vezes é muito difícil de alcançar. Ainda em
Figueiredo (2009, p.27) encontramos que somos bastante responsáveis pela
formação humana de nossos alunos.
Alguns pais
recorrem ao professor, como que num pedido de socorro, percebendo afinidades e
identificação de seus filhos, confiando à missão de auxiliá-los no resgate do
ano letivo de seus filhos. Assumir essa missão acontece por termos a
consciência da importância de uma vida escolar bem sucedida no futuro de nossos
atletas, mas é necessária uma estratégia, mas também de resultados. Comprometer
o trabalho profissional nos leva a ter cautela, pois alguns alunos podem ser
indispensáveis no esquema tático da equipe. Situações especiais nos sugerem
oportunidades diferenciadas para um professor.
A consciência da
importância da vida escolar é uma estratégia necessária a nós professores e os
resultados desta missão podem fazer com que os alunos conquistem melhores resultados
em seu percurso escolar sem o abandono do mesmo. Na maioria das vezes, o
conhecimento do rendimento escolar de cada criança, por falta de um
profissional em Pedagogia para acompanhamento, implica em um posicionamento
mais efetivo do professor e em períodos de transição, por vezes delicado, a
falta de conhecimento do rendimento escolar do aluno leva o professor a
atitudes diferenciadas.
Acreditamos que,
uma das formas de conseguir êxito, pode ser aplicada da seguinte forma, em sete
etapas que aqui descrevemos:
1- Ter em mãos
as informações sobre as competições ou viagens a serem feitas pela equipe.
2- Verificar se
existem atrativos suficientes para serem usados como forma de convencimento a
um eventual sacrifício.
3- Ter o mínimo
de aproximação possível ou o conhecimento de quem são os pais de cada atleta.
4- Reunir com a
Diretora para esclarecimentos da real situação oferecendo auxílio.
5- Convocar uma
reunião com os pais daqueles que estão com as notas comprometidas, respeitando
se houver qualquer tipo de oposição à nossa ajuda.
6- Se reunir com
os atletas que estão com as notas baixas e propor um acordo.
7- Seguir o
acordo feito anteriormente para com aqueles que não o cumpriram, para garantir
a eficácia do método nos próximos anos quando necessário.
Ao concluirmos,
poderíamos afirmar a eficácia dessa estratégia aplicada ao futebol, utilizando
os critérios descritos, como “moeda de troca”, na medida em que esse é
realmente um item importante na vida do aluno, podendo ajudá-lo na obtenção de
um melhor rendimento na vida escolar, orientando-o não somente no ambiente de
treinos, mas também em sua rotina escolar, e não só com futebol, mas em
qualquer outro esporte onde exista o amor pelo que se faz, o comprometimento
com suas responsabilidades, mas também com seus sonhos e objetivos que ainda se
deseja realizar e alcançar, e que sendo feitos ou buscados sem o amor
necessário para alcançá-los, esses objetivos passam a estar comprometidos com o
fracasso.
Afinal,
encontramos em Della Fonte que, “[...] o professor não teria o intuito de, a
partir da especificidade de sua área, levar os alunos a amarem o conhecimento?
Mas como ele pode fazer isso, se ele próprio, muitas vezes, não tem uma relação
amorosa com o saber?...” (Educação Física, Educação e Reflexão Filosófica, p.
16)
Conclusão
Conclusão
Esta é a
realidade daqueles que não concluíram seus estudos e as dificuldades
particulares de cada um para sobreviverem do pouco que recebem, por não terem
escolaridade suficiente que proporcione lutar por melhores oportunidades e que
não podem ser esquecidas nos momentos em que se mostra necessário dialogar e
conscientizar os alunos.
Poucos serão
aqueles que se apropriam de bons trabalhos com uma escolaridade comprometida e
sem alguém que possa auxiliá-los.
Desta maneira,
estamos convencidos de que os alunos têm de ser conscientizados daquilo que
almejam, para que não se mostrem despreparados para uma possível mudança de
planos na vida pessoal e escolar.
Bibliografia
ANJOS, J.L. Educação Física, Corpo e Movimento. Vitória: UFES-NEAAD, 2009
BRACHT, V. Educação Física e Escola. Vitória: UFES-NEAAD, 2009
CHICON, F. Educação Física, Aprendizagem e Desenvolvimento Humano. Vitória: UFES-NEAAD, 2009
DELLA FONTE, S. Educação Física, Educação e Reflexão Filosófica. Vitória: UFES-NEAAD, 2010
FIGUEIREDO, Z. Educação Física, Formação Docente e Currículo. Vitória: UFES-NEAAD, 2009.
Bibliografia
ANJOS, J.L. Educação Física, Corpo e Movimento. Vitória: UFES-NEAAD, 2009
BRACHT, V. Educação Física e Escola. Vitória: UFES-NEAAD, 2009
CHICON, F. Educação Física, Aprendizagem e Desenvolvimento Humano. Vitória: UFES-NEAAD, 2009
DELLA FONTE, S. Educação Física, Educação e Reflexão Filosófica. Vitória: UFES-NEAAD, 2010
FIGUEIREDO, Z. Educação Física, Formação Docente e Currículo. Vitória: UFES-NEAAD, 2009.
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