Controlar as ações do jogo! Fins ou meios?
Vamos refletir sobre quais
posturas contribuem para o controle das ações do jogo e se há algo “maior” por
trás do que é abordado no cotidiano
Leonardo Gondim*
Nesta saudável discussão, fugindo um
pouco da seqüência que venho abordando (organizações defensivas), penso em
discutir dois fatores que podem ser importantes para a conquista do controle
das ações do jogo: a marcação pressão e a posse de bola, juntamente com o
intuito de esclarecer se os mesmos funcionam e são vistos como meios ou fins
dentro do processo do jogo.
Vejo que, em determinadas análises,
deixamos de lado o objetivo principal do jogo, aquele que está determinado
pelas regras do mesmo, ou seja, a lógica do jogo (ou qualquer outro nome com o
qual queiramos defini-la), a busca incessante por pontuar mais que o
adversário.
Com o “advento Barcelona”, a mídia se
preocupa excessivamente mais com posse de bola, pressão direta e aguda,
velocidade do jogo e outros, do que com a necessária efetividade. De forma
alguma quero dizer que a equipe catalã não o seja, muito menos que os meios
citados não sejam decisivos; porém, não podemos esquecer que ganha aquele que
marca mais gols. Algo a nos atentarmos, pois é que sem a tal efetividade, as
ações se tornam inespecíficas ao jogo. Isso será abordado mais a frente.
Enfim, pensando em pontuar mais que o
oponente e, ao meu pensar, sofrer a menor quantidade de gols possível, vamos
refletir sobre alguns fatores que podem conferir controle às ações do jogo.
Abordo inicialmente um conceito voltado
à organização defensiva: pressão coletiva ou pressing, como queiram. Podemos
entender como uma ação coletiva que prima por dificultar ou impedir a
organização ofensiva da equipe contraria, isto é, não deixar o adversário
criar.
Pensemos de forma mais profunda: por
que pressionar? Onde pressionar? Como pressionar?
Tais perguntas foram feitas por um
companheiro de equipe universitária que tive e que, pensando racionalmente,
fazem todo o sentido dentro de um contexto de marcação pressão. Então, vamos
analisar um dos diversos métodos que podemos encontrar de pressão.
Equipe: Manchester City / Treinador: Roberto Mancini
A equipe de Mancini, quando em situação de pressão em zona alta (linha defensiva do adversário), atua com três jogadores (centroavante e dois pontas) na primeira linha de pressão, no intuito de induzir o adversário a conduzir a bola para as laterais do campo.
Equipe: Manchester City / Treinador: Roberto Mancini
A equipe de Mancini, quando em situação de pressão em zona alta (linha defensiva do adversário), atua com três jogadores (centroavante e dois pontas) na primeira linha de pressão, no intuito de induzir o adversário a conduzir a bola para as laterais do campo.
Seu setor de meio de campo é preenchido
por três jogadores em forma de triângulo (um volante fixo a frente da defesa e
dois volantes/meias mais avançados), no qual os dois avançados atuam em
abordagem individual e direta, e o volante fixo, realiza coberturas para os
dois que avançam.
A última linha (zagueiros e laterais)
atua de modo a observar a ação dos três atuantes em pressão alta, ou seja, se
os mesmos estão abordando intensamente e próximos dos defensores adversários,
avançam e compactam a equipe; mas se a abordagem está distante (favorecendo uma
bola longa, por exemplo), recuam e ocupam sua metade do campo de forma mais
cautelosa.
Na imagem a seguir notamos os dois
alas, o centroavante e os dois volantes mais avançados mantendo um
posicionamento muito adiantado em relação ao seu próprio campo defensivo. Além
disso, pode-se observar o retorno do lateral-esquerdo, que havia acabado de
participar do último momento ofensivo da equipe.
Na imagem abaixo, nota-se que o ponta
direito (circulado em preto) não atua na abordagem, ou seja, a mesma perde sua
efetividade e, em conseqüência, a última linha defensiva recua, evidenciando
uma alteração no método de organização defensiva, que passa a ser zonal e não
pressionante.
Ainda sobre a figura acima, de acordo
com a mudança de postura oriunda da primeira linha ofensiva, os jogadores
alteram, também, a distribuição física dentro do campo, passando a um compacto
1-4-4-2.
Segundo o próprio treinador, o ato de
pressionar depende muito do adversário em questão e tem como principal objetivo
não permitir que a equipe contrária se organize para pensar em seu momento de
criação.
Podemos concluir, então, de acordo com
as três perguntas citadas anteriormente, que Mancini orienta sua equipe a
pressionar para impedir a organização ofensiva do adversário, preferindo que
essa pressão tenha inicio (e resultado positivo – recuperação da bola) na
primeira linha defensiva do adversário, independente de onde esta esteja
localizada.
Por fim, a equipe realizará a ação com
três jogadores atuando como primeira linha de pressão (centroavante e dois
pontas), de modo a induzirem o adversário para as laterais do campo, onde os
meio-campistas e laterais estão orientados a avançar e pressionar (se estiverem
ao mesmo lado da bola) ou compactar horizontalmente (se estiverem do lado
oposto ao da bola).
Essa é apenas uma das formas de se
organizar uma ação de pressing. À parte sua efetividade, nota-se que o processo
possui referências e orientações, o que julgo ser o mais importante dentro
possível permitido pela imprevisibilidade do jogo, além de representar a
importância do “dedo” do treinador.
Reforçando as palavras de Roberto
Mancini, atuar de modo a pressionar o adversário parece ser um bom meio de
assumir o controle das ações do jogo, porém, é um processo que exige muita
organização e responsabilidade de todos os atletas da equipe.
Outro fator muito comentado e
valorizado nas rodas de discussão ou mesmo pela mídia é a importância da
porcentagem da posse de bola. Exemplo maior, a esmagadora superioridade
estatística que a equipe do Barcelona impõe, neste quesito, aos seus
adversários.
Neste ponto, proponho uma discussão
simples, apoiada, em sua maioria, em conversas e reflexões com colegas de
profissão.
Pensando em um momento de organização
ofensiva, momento este em que a equipe possui a bola e visa, seguindo o
objetivo do jogo, pontuar, o que seria mais importante: a posse de bola? A
quantidade de toques certos? Vamos discutir!
Para ilustrar, proponho a analise de
dois vídeos da equipe com maior referência quanto à posse de bola, o Barcelona:
Notemos que a equipe catalã busca, na
maioria de seus passes, encontrar jogadores que estejam e maior profundidade,
em relação ao portador da bola, e que, somente quando isso não é possível,
ocorre um passe para trás ou para o lado. Temos que as construções dos ataques
são baseadas em passes que, ao mesmo tempo, afastam a bola da zona de
recuperação/pressão e conferem mínima profundidade à equipe.
Na seqüência, temos uma ação ofensiva
constituída, em sua maioria, por passes para frente e, quando isso não acontece
(poucas vezes), o passe seguinte é realizado em velocidade e com maior
profundidade que os anteriores. Guardemos essas informações.
Em um antigo vídeo intitulado “Tiene
sés segundos” (atualmente fora do ar, dentro do blog paradigmaguardiola.blogspot.com), nota-se a
intensidade com a qual a equipe do Barcelona busca recuperar a posse após a
perda da bola, o intuito é que tal fato ocorra o mais rápido possível. “Mas
qual a relação deste tema com o que estamos refletindo agora?”, vocês podem
estar se perguntando.
Vamos lá, em uma rápida análise, porém,
profunda, podemos concluir que a obrigatoriedade de recuperação de posse
inúmeras vezes sinaliza que a equipe perdeu a bola, também, inúmeras vezes. Ao
que não nos atentamos é: em quais condições essas perdas ocorreram?
Observando alguns vídeos que retratam a
intensidade em ações de recuperação da bola que margeia o momento sem posse da
equipe catalã, vemos que as perdas são caracterizadas por tentativas de passes
em profundidade, ações de “1 contra 1”
com objetivo frontal, lançamentos em profundidade ou passes curtos para frente.
Logo, existe a tentativa de manutenção da posse de bola, porém, a mesma
consiste em um “estágio” para se chegar à meta, às finalizações: o jogar para
frente.
Assim como pressionar de modo a impedir
as organizações ofensivas do adversário, ter a posse de bola aparenta ser um
importante meio para se chegar à conquista do controle das ações do jogo.
Poderia parar por aqui minhas reflexões, porém, há algo maior que estamos
esquecendo.
Concluindo e interpretando os dois
textos, quero demonstrar que a equipe de Pep Guardiolla (em breve Tito Villanueva )
possui uma grande porcentagem de posse de bola em seus jogos e que exerce uma
pressão agudíssima aos mesmos. Porém, também possui essa vantagem estatística
em quantidade de finalizações, quantidade de finalizações certas e, por último,
quantidade de passes CERTOS e ERRADOS para FRENTE!
Ou seja, a pressão em qualquer zona do
campo, a recuperação da bola, a manutenção de posse, os passes certos e muitos
outros, são meios de se obter o objetivo/fim máximo do jogo, aquele mesmo que,
em certas discussões ou abordagens da mídia esportiva, está sendo deixado de
lado: pontuar, marcar, guardar, fazer gol!
Por fim, defendo que qualquer equipe e
treinador devem possuir meios muito claros e bem treinados, porém, esses devem
ser formas de se atingir a lógica única do jogo, que ainda consiste em pontuar
mais que o adversário.
O que vocês acham? Peço que opinem e questionem.
Vamos enriquecer essa discussão?
“O conhecimento único, verdadeiro e absoluto é aquele que nos leva ao insucesso!”
“O conhecimento único, verdadeiro e absoluto é aquele que nos leva ao insucesso!”
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