Creatina no Futebol

REVISÃO DA LITERATURA CIENTÍFICA
A Natureza do Jogo
Em 1976, Reilly e Thomas publicaram dados referentes ao tempo-movimento de profissionais ingleses do Everton Football Club e determinaram que os jogadores desse time correram um pouco mais de 8500 metros em um jogo. Essa distância foi estimada pelas anotações realizadas por eles ou ditadas por observadores treinados e com análise de videoteipes do jogo. Cerca de 2/3 dos 8500 metros foram percorridos a intensidades baixas de caminhar e trotar (jogging), cerca de 800 metros à velocidade de corrida máxima (sprint), e o restante no que os autores definiram como velocidade de cruzeiro (“correndo com um propósito e esforço evidente” – mais rápido que a corrida, mas mais lento que um sprint). Reilly e Thomas observaram 800 a 1000 mudanças distintas de velocidade ou direção do movimento, uma ocorrendo a cada 5-6 segundos.Withers e col.(1982) e outros autores repetiram e ampliaram o trabalho de Reilly e Thomas. Estimativas atuais, baseadas em videoteipes assim como na tecnologia de posicionamento global por satélite (GPS), indicam que à distância percorrida pelos homens é de aproximadamente 10.000 metros (Bangsbo, 1994a, 1994b; Bangsbo e col., 1991) e cerca de 8500 metros para mulheres (dados não publicados).Dependendo do nível do jogo e da atividade envolvida, o treino e uma partida de futebol podem ser altamente aeróbicos (para as atividades de caminhar e trotar com baixa intensidade, especialmente durante a recuperação de corridas de alta intensidade) ou mais anaeróbicos (para as atividades de maior intensidade como cruzamentos, correndo sprint, driblando, saltando, dando carrinho e chutando). É interessante ressaltar que os dribles elevam a demanda de energia em cerca de 15%; (Reilly & Ball, 1984). Quase todas as características do condicionamento físico, principalmente a agilidade, são necessárias na prática do futebol.Outra característica do futebol, que pode fazer da nutrição um desafio, é o calendário dos jogos. No futebol, uma equipe pode jogar cinco partidas em um período de duas semanas, quando os comitês organizadores limitam a duração da temporada. Além disso, pode haver torneios nos quais diversos jogos mais curtos são realizados em 2-3 dias. Isto significa que muitos jogos são marcados e o tempo de recuperação é mínimo.
SUPLEMENTAÇÃO COM CREATINA
Não existem trabalhos científicos publicados sobre os efeitos da suplementação com creatina no desempenho do futebol durante um jogo profissional, mas muitos artigos relataram os efeitos da creatina em testes de desempenho relacionados ao futebol. Em um estudo de Redondo e col.(1996) com 18 indivíduos, homens e mulheres, universitários, a maioria deles praticantes de futebol, não observou-se nenhum efeito no desempenho da repetição de três sprints de 60 metros, separados por um período de descanso de dois minutos, após sete dias de suplementação com creatina. Porém, podemos questionar se esse estudo se aplica diretamente a uma partida de futebol, pois é pouco provável que um jogador execute um sprint máximo por 60 metros, descanse por dois minutos e depois repita o sprint. Usando um modelo semelhante, Mujika e col.(2000) recrutaram 17 jogadores de futebol altamente treinados, com idade universitária, para estudar os efeitos da creatina em seis sprints máximos de 15 metros com largadas em movimento, cada sprint separado por 30 segundos de recuperação. Após 8 minutos de recuperação da série de sprints, os indivíduos tentaram cobrir a maior distância possível num teste de 16,5 minutos de corrida intermitente, com 15 segundos à alta intensidade e 10 segundos à baixa intensidade enquanto se moviam alternadamente para frente, para trás e para os lados em um circuito próximo à grande área. Antes e depois desses dois testes de corrida, os indivíduos realizaram saltos verticais máximos idealizados para imitar parcialmente as habilidades de cabeceio no futebol. Todos os 17 indivíduos realizaram o teste duas vezes, uma vez antes e outra seis dias depois da suplementação com creatina (n=8) ou placebo (n=9). Comparando-se os resultados dos grupos, antes e depois da suplementação, um número maior de atletas do grupo que recebeu creatina aumentou seu tempo máximo de sprint que aqueles do grupo placebo. Infelizmente, os autores apresentaram apenas as análises estatísticas dos dados de cada grupo e não uma análise dos efeitos globais da creatina comparada ao placebo, que provavelmente não teria detectado nenhum efeito da suplementação com creatina nos tempos de sprint. Mais ainda, não se observou nenhum efeito da creatina (antes/depois de sua ingestão) no teste de corrida intermitente ou de saltos verticais.Doze jogadoras da seleção de futebol feminino da Austrália participaram de um estudo sobre os efeitos da creatina em vários testes de desempenho simulando partidas, incluindo repetições de sprints máximos de 20 metros, partindo de uma posição parada; corridas de agilidade (para frente, para trás e deslocamento lateral) e chutes ao gol com a bola rolando (Cox e col. 202). Seguindo os testes basais, seis atletas foram submetidas a seis dias de suplementação com creatina ou com placebo, e o teste final foi efetuado no sétimo dia. O grupo que recebeu creatina apresentou uma melhora em 9 de 55 sprints máximos e o grupo que recebeu placebo, uma melhora em 2 tiros. O grupo que recebeu a suplementação com creatina melhorou em 3 das 10 corridas de agilidade e o grupo placebo, 1 em 10, mas os tempos médios para todas as 10 corridas não melhoraram em nenhum dos dois grupos. A precisão no chute também não foi afetada pela suplementação. Além disso, só foram registrados os resultados pré e pós - testes de cada grupo; comparações globais entre os dois grupos não foram realizadas e é duvidoso se essa análise detectaria qualquer benefício da suplementação com creatina em qualquer variável medida. Finalmente, a suplementação com creatina foi testada em jogadores de futebol de 14 a 19 anos da Liga de 1° Divisão Júnior Iugoslava (Ostojic, 2004). Antes e depois de sete dias de suplementação, tanto com cretina quanto com placebo, 10 jogadores em cada grupo realizaram um teste cronometrado de dribles com a bola ao redor de cones distantes 3 metros um do outro, um teste de potência de sprint que duraram 3 segundos, um teste de salto vertical e um teste de resistência de shuttle run (teste de agilidade) com 11 minutos de duração. Ao contrário dos outros dois estudos já mencionados sobre habilidades no futebol, os autores corretamente relataram os efeitos globais da creatina versus placebo, e não só os resultados pré e pós - teste dos grupos. O grupo que recebeu creatina foi expressivamente melhor que o grupo que recebeu placebo no teste de dribles, de sprint e salto vertical. Como esperado, a creatina não provocou mudanças no teste de endurance shuttle run (teste de agilidade). Uma desvantagem desse relatório é que nenhum dado de confiança dos testes e re-testes foram fornecidos. O conhecimento da confiabilidade do teste é particularmente importante porque o grupo que recebeu creatina apresentou melhoras marcantes – 2,8 segundos melhor que a marca inicial de 13 segundos no teste de dribles, 0,5 segundo melhor que a marca inicial de 2,7 segundos no teste de sprint e 5,9 cm melhor que os 49,2 cm iniciais no salto vertical. Parece pouco provável que resultados tão extremos possam ser repetidos.Resumindo, não há evidências convincentes de que a suplementação com creatina traga quaisquer efeitos benéficos na prática do futebol. Além disso, os jogadores de futebol raramente correm à velocidade máxima (sprint) como em uma prova de 100 metros de atletismo. Os jogadores normalmente têm que atingir uma velocidade que lhes permita controlar a bola; raramente ou nunca, atingem a velocidade máxima devido à distância limitada de um sprint no futebol. Assim, parece improvável que a suplementação com creatina tenha um impacto maior que o pequeno papel nutricional que desempenha no futebol. A atenção deve ser voltada para os alimentos e para os líquidos.
Carboidrato Dietético e Desempenho no Futebol
No final dos anos 60 e princípio da década de 70, estabeleceu-se o papel principal do metabolismo de carboidratos no desempenho atlético, e a literatura dessa época concentrou-se na depleção e reposição do glicogênio (Bergstrom e col., 1967). Particularmente, sabia-se que exercícios exaustivos depletam o glicogênio, e que exercícios leves e uma dieta rica em carboidratos por alguns dias (“reposição de carboidrato”) conseguia aumentar, de maneira significativa, os estoques de glicogênio muscular (“supercompensação de glicogênio”) (Bergstrom & Hultman, 1972).Entretanto, apesar de o futebol ser o esporte mais popular no mundo, poucos estudos sobre nutrição foram realizados especificamente com esse esporte. Em um desses trabalhos, Agnevik (1970) estudou amostras de biópsias de oito jogadores para examinar a depleção de glicogênio e observou alguns resultados interessantes (Figura 1). Primeiro, os músculos dos jogadores estavam quase vazios de glicogênio depois do jogo. Segundo, a maior parte da depleção de glicogênio acontecia na primeira metade do jogo. Isso se correlacionava bem com os resultados de Reilly & Thomas (1976), que demonstraram que os atletas correm menos no segundo tempo que no primeiro, provavelmente por estarem correndo “sem combustível”.Durante o segundo tempo, os atletas provavelmente estavam jogando com níveis de glicogênio muito baixo o que comprova a exaustão referida pelo atleta (Bergstrom e col., 1967). É interessante salientar que lesões em jogadores americanos com menos de 20 anos e em jogadores que participam da Associação Inglesa de Futebol mostraram que cerca de 25% de todas lesões ocorrem nos últimos 15-20 minutos de uma partida (Hawkins e col., 2001). Mas os dados obtidos por Agnevik apontaram um terceiro ponto geralmente esquecido em um debate sobre nutrição e futebol: o nível inicial do glicogênio muscular dos jogadores. O nível de glicogênio muscular dos jogadores no início da partida não era significativo com diferença mínima daquele encontrado em uma pessoa não treinada. Isso numa época em que os efeitos da supercompensação com glicogênio estavam sendo amplamente estudados e quando já sabíamos que o treino e a intervenção nutricional poderiam resultar em níveis elevados de glicogênio pré - exercício (Bergstrom e col., 1967). Obviamente, esses jogadores de futebol desconheciam a importância dos carboidratos na alimentação.
Dietas ricas em carboidratos nos dias anteriores e posteriores a Treinos e Competições
Costill e col.(1971) demonstraram a necessidade de uma dieta rica em carboidratos para atletas de endurance quando observaram que, durante dias sucessivos de treinamentos com corrida, a dieta típica dos atletas, com aproximadamente 40% da energia (calorias) provenientes de carboidratos, não conseguia repor todo glicogênio muscular em 24 horas, enquanto uma dieta com 70% de carboidratos conseguia. Na realidade, a maioria das lesões no futebol acontecem no final da semana, durante as concentrações antes do início da temporada quando os jogadores provavelmente apresentam fadiga em função da redução progressiva diária do glicogênio muscular. O grupo de Costill também demonstrou que a ingestão de carboidratos durante as 24h, em um corredor profissional, deve totalizar aproximadamente 600 g ou 7 - 10 g/kg de peso para maximizar o armazenamento do glicogênio muscular depois da corrida de exaustão (Figura 2) (Costill e col., 1981; Sherman & Costill, 1984). Posteriormente, Ivy e col.(1988) observaram que a reposição do glicogênio acontecia em ritmo acelerado quando a ingestão de carboidratos começava imediatamente após um exercício exaustivo, comparando-se a ingestão de carboidratos feita após a terceira hora de recuperação. Assim, os atletas devem começar a consumir alimentos e bebidas ricos em carboidratos imediatamente após treino ou jogo exaustivo, para otimizar a reposição do glicogênio. A importância do reabastecimento após o jogo na preparação para a partida seguinte nunca é enfatizada demais. O time que negligência o reabastecimento 1 - 2 horas após o jogo tem mais chances de perder a partida seguinte.Em um teste prático de um único dia de ingestão de carboidratos (loading) antes de uma competição, Saltin (1973) descreveu um projeto muito interessante sobre os efeitos dos níveis de glicogênio pré-competição e o desempenho apresentado na partida de futebol. Metade dos jogadores treinou intensamente no dia anterior ao jogo enquanto a outra metade treinou pouco. O segundo grupo recebeu uma dieta rica em carboidratos no último dia para elevar os níveis de glicogênio nos músculos. Biópsias pré - jogo mostraram que o primeiro grupo apresentava perda significativa de glicogênio no início da partida. Filmagens foram usadas para acompanhar os jogadores durante certos períodos de cada tempo da partida. Como esperado, o grupo que recebeu alta porcentagem de carboidratos correu mais que o outro grupo. Uma outra importante observação do ponto de vista técnico e tático: no segundo tempo, o grupo controle passou 50% da distância andando; dificilmente essa intensidade seria consistente para resultados positivos em um jogo no qual gols de última hora podem determinar o resultado.Balson e col.(1999) pediram que os jogadores participassem de duas partidas de 90 minutos (quatro jogadores em cada equipe) primeiro após ingerir uma dieta com 30% de carboidratos, e segundo após uma dieta com 65%. Assim como no estudo de Saltin (1973), quando os jogadores consumiram a dieta rica em carboidratos, o índice de corridas de alta intensidade durante a partida foi 33% superior.Para avaliar dietas que poderiam propiciar a melhor recuperação possível depois de uma corrida de exaustão intermitente, elaborada para imitar a movimentação num jogo de futebol, Nicholas e col.(1997) pediram que os indivíduos completassem 70 minutos de sprints, corridas e caminhadas intermitentes, seguidos de um teste de sprint e corrida de exaustão intermitente, com duração de aproximadamente 15 minutos. Durante as 22 horas de recuperação após esse circuito de exercícios inicial, os indivíduos consumiram ou uma dieta com teor normal de carboidratos (5,4 g/kg de peso corporal) ou uma dieta rica em carboidratos (10 g/kg), antes de repetirem a série de exercícios. A dieta rica em carboidratos fez com que os indivíduos melhorassem seus tempos de corrida intermitente em 3,3 minutos, praticamente 20%. Como mostram os estudos citados anteriormente, há grande evidência de que aumentar o consumo de carboidratos pode melhorar o desempenho em atividades de endurance, incluindo esportes coletivos como o futebol, que envolve corridas intermitentes realizadas em várias intensidades. Entretanto, com poucas exceções (Rico-Sanz e col. 1998), a maioria dos jogadores de futebol - homens e mulheres, em todos os níveis de competição - ainda consomem pouquíssimo carboidrato em sua dieta (Brewer,1994; Clark e col., 1982; Le blanc e col., 2002; Kirkendall, 1993; Maughan, 1997).
Bebidas Contendo Carboidratos, Antes e Durante os Jogos de Futebol.
Publicações de pesquisas nos meados dos anos 1970 continuaram a documentar o fato de que o carboidrato é o melhor combustível para atividades de alta intensidade, que gorduras são usadas principalmente durante exercícios de baixa intensidade, que os estoques de carboidratos no corpo são limitados, e que quando o glicogênio é depletado, a intensidade da corrida diminui. Aproximadamente nessa época, o uso de bebidas contendo glicose ou maltodextrinas (polímeros de glicose) como fonte de carboidratos tornou-se popular. David Muckle, um preparador físico de uma equipe profissional inglesa submeteu seus jogadores a uma dieta rica em carboidratos por 24 horas, com um xarope concentrado de glicose a 46%, 30 minutos antes de cada uma das 20 partidas e depois não ofereceu nenhum suplemento nos 20 jogos seguintes. Ele acompanhou algumas características táticas das jogadas, como chutes a gol, gols a favor e contra, e toques na bola (Muckle, 1973). Nos 20 jogos que os jogadores receberam suplementação com carboidrato, o time marcou mais e sofreu menos gols no segundo tempo comparado aos 20 jogos onde a equipe não contou com essa suplementação. Além disso, com a suplementação, o time tocou mais vezes na bola e efetuou mais chutes a gol - principalmente no último terço da partida. Infelizmente, a dieta que o time seguiu quando não recebeu a suplementação de carboidratos não foi descrita; portanto, diferenças no teor de carboidratos das dietas, e não o xarope de glicose, podem ter sido responsáveis pelas diferenças no desempenho. Leatt e Jacobs (1989) compararam bebidas placebo e bebidas contendo carboidratos em 10 jogadores de futebol, divididos em dois grupos de cinco. Os jogadores que beberam 500 ml de uma solução com 7% de polímero de glicose, 10 minutos antes do início de uma partida, e novamente durante o intervalo, foram capazes de correr mais, com uma depleção menor de glicogênio muscular, e de armazenar mais glicogênio após o jogo.Kirkendall e col., 1988 deram 400 ml de uma bebida contendo 23% de polímero de glicose ou placebo antes e durante o intervalo de jogos em campo aberto e mostramos que o suplemento com carboidratos aumentou as distâncias gerais percorridas em 20 %, com um inacreditável aumento de 40% na distância percorrida em velocidade durante o segundo tempo. A maior parte dos jogadores, neste experimento, percebeu uma diferença no desempenho com relação às bebidas.Ostojic e Mazic (2002) investigaram os efeitos do placebo comparado com uma bebida contendo carboidratos e eletrólitos no desempenho de quatro testes “específicos do futebol”, realizados imediatamente após uma partida de futebol de 90 minutos entre duas equipes da 1° Divisão da Liga Iugoslava de Futebol. A bebida experimental continha um tipo (não - especificado) de carboidrato na concentração de 7%, além de potássio e cloreto de sódio. Os jogadores beberam 5 ml/kg de peso corporal imediatamente antes do jogo e 2 ml/kg a cada 15 minutos durante o jogo. A equipe que ingeriu a bebida contendo carboidratos e eletrólitos apresentou melhores resultados que seus companheiros que ingeriram a bebida placebo nos testes de dribles e de “precisão”, mas não houve diferenças nos resultados de potência do sprint ou nos testes de “coordenação”. A interpretação dos resultados desse estudo foi prejudicada pela designação de times diferentes para ambas bebidas, sem que ambos tivessem sido testados sob a ação das duas bebidas, a placebo e a experimental.Em estudo realizado por Nicholas e col.(1995), nove jogadores completaram dois ensaios de um teste de corrida intermitente - um com placebo e outro com uma bebida contendo 6,9% de carboidratos. Os ensaios foram separados por, no mínimo, sete dias. Os indivíduos completaram cinco períodos de 15 minutos de sprint, corrida e caminhadas intermitentes padronizadas, seguido por um teste de desempenho - corrida intermitente em um tempo padronizado até a exaustão. As bebidas foram consumidas imediatamente antes do início do exercício (5 ml/kg de peso corporal) e depois a cada 15 minutos (2 ml/kg). Cada jogador consumiu um volume total de aproximadamente 1167 ml em cada ensaio. Quando os jogadores de futebol consumiram a bebida contendo carboidrato, conseguiram continuar correndo um tempo 33% maior (8,9 versus 6,7 minutos) durante o teste de desempenho quando comparados com os jogadores que consumiram a bebida contendo placebo. Em um dos poucos estudos que incluiu testes de desempenho mental, Welsh e col.(2002) recrutaram cinco homens e cinco mulheres, jogadores de futebol ou de basquete competitivos para participar de três ensaios práticos e de dois experimentais, cada um com quatro períodos de 15 minutos de corridas, caminhadas, sprints e saltos intermitentes. Um repouso de 20 minutos separou o segundo e o terceiro período. No primeiro ensaio experimental, metade dos indivíduos ingeriu uma solução contendo carboidratos e eletrólitos, enquanto os outros indivíduos beberam placebo; no segundo ensaio, os tratamentos foram invertidos. As bebidas contendo carboidratos incluíam uma solução de 6% de carboidratos (5ml/kg imediatamente antes e 3 ml/kg depois de cada período de 15 minutos) e uma bebida contendo 18% de carboidratos (5 ml/Kg no intervalo, na metade do jogo). Os testes realizados durante os períodos de 15 minutos incluíam shuttle run (teste de agilidade) para fadiga, sprints máximos de 20 metros, saltos verticais repetidos, um teste de habilidade motora do corpo todo, um perfil do estado de humor e um teste de acuidade mental. A ingestão de carboidratos resultou em uma melhora de 37% no tempo de corrida de exaustão, melhorou o tempo dos sprints durante os 15 minutos finais, melhorou as habilidades motoras perto do final do exercício e diminuiu as percepções de fadiga medida pelo perfil de humor.Diferentemente dos resultados positivos citados anteriormente, Zeederberg e col.(1996), ofereceram maltodextrinas antes e durante o intervalo de um jogo e inesperadamente observaram que a ingestão de carboidratos não melhorou a habilidade no cabeceio, dribles ou chutes, e até mesmo piorou a habilidade de desarmar. Como a ingestão de carboidratos pode piorar essa última habilidade é um mistério.
O Ponto Principal sobre Carboidratos no Futebol:
Jogadores não consomem a quantidade suficiente
Praticamente em todos os anos dos últimos 20 anos, vimos apresentações no encontro anual do American College of Sports Medicine sobre hábitos alimentares deficientes, escolhas errôneas de alimentos e ingestão inadequada de carboidratos pelos jogadores de futebol. Alguns dos clubes de elite no mundo - Manchester United, Juventus, Arsenal, Real Madrid, Bayern Munich, Ajax Amsterdam, São Paulo e outros no mesmo nível de desempenho (e condições financeiras) garantem que seus caríssimos jogadores são bem alimentados e cuidados, mas outras equipes, mesmo participantes da mesma liga, dão pouca ou nenhuma atenção à nutrição. Geralmente, só quando o jogador chega a um clube de elite é que ele recebe uma verdadeira orientação nutricional. Um nutricionista de um time que participou da Copa do Mundo de 1994 me revelou que metade de seus jogadores titulares acreditavam que o que comiam não interferia no seu desempenho. Este fato é observado, desde de equipes colegiais até profissionais e pode-se concluir que a informação sobre carboidratos não está chegando aos jogadores ou os jogadores estão ignorando tal informação. Atletas de endurance em esportes individuais como corrida e ciclismo logo absorveram a informação, mas muitos atletas praticantes de esportes coletivos, incluindo futebol e basquete ainda não adotaram as práticas e conceitos de uma dieta adequada.
Necessidades hídricas de jogadores de futebol
Uma perda tão pequena quanto 2% do peso corporal, por exemplo, 1,4 kg para um atleta de 70 kg, provocada pela falta de reposição das perdas pelo suor durante a prática de exercícios pode comprometer a corrida contínua (Armstrong e col., 1985) e a intermitente (Maxwell e col., 1999), e pode piorar o desempenho das habilidades no futebol (McGregor e col., 1999). Infelizmente, a maioria dos atletas não bebe o suficiente durante a prática de exercícios a fim de repor suas perdas hídricas (Burke, 1997). Dependendo das condições climáticas e da intensidade da partida, as perdas de líquido pelo suor de cada jogador de futebol pode variar de 1 L até 4 L, e vários estudos relataram que, em média, os jogadores repõem algo em torno de 0% a 87% de sua perda de líquidos durante o jogo (Burke, 1997; Maughan e col., 2004).Para testar a importância da hidratação no desempenho de shuttle run (teste de agilidade) de alta intensidade, a velocidade para driblar a bola de futebol em torno de cones e o desempenho em um teste de concentração mental, McGregor e col.(1999) recrutaram nove jogadores semiprofissionais de futebol para participar de dois ensaios de 90 minutos de exercício, uma sem líquidos e outra com água aromatizada (5 ml/kg de peso corporal imediatamente antes dos exercícios, e depois 2 mL/kg a cada 15 minutos). O desempenho no teste de dribles piorou quando não receberam nenhum líquido, mas permaneceu estável quando os jogadores beberam água. Mas a concentração mental não foi afetada. Ainda na condição da não ingestão de líquidos, a freqüência cardíaca dos jogadores foi mais alta, e eles tiveram a sensação de que a bateria de exercícios foi mais difícil. Esses efeitos adversos ocorreram com uma perda de suor menor que 2,4% do peso corporal.Muitas pessoas acreditam que o fornecimento adequado de líquidos para um jogador de futebol durante uma partida é um desafio impossível porque o jogo consiste de 90 minutos de corrida sem interrupções. A realidade é que a bola fica em jogo por apenas 60 - 70 minutos (Kirkendall, 1985; Reilly & Thomas 1976; Withers e col., 1982). Existindo tempo suficiente para a ingestão de líquidos durante uma partida de futebol, por exemplo, quando a bola sai pelas laterais, é chutada por cima do gol, após a marcação de um gol e durante as interrupções para atendimento de lesões. A equipe inteligente colocará coolers térmicos bem identificados com bebidas individualizadas para seus jogadores a cada 15 - 20 metros ao longo da linha lateral e em cada gol. O maior desafio é oferecer líquidos aos jogadores que atuam como meio de campo, isto é, aqueles que ficam mais longe das linhas laterais e dos gols, locais onde se pode deixar os líquidos.
Água ou bebidas esportivas?
A água é melhor que nada e costuma ser adequada para treinos ou competições em clima frio, quando a intensidade do jogo é de leve a moderada. Entretanto, como mencionado anteriormente, quando tratamos do consumo de carboidratos durante a prática de exercícios, para treinos intensos ou competições, bebidas contendo carboidratos e eletrólitos, por exemplo “bebidas esportivas”, provaram ser mais adequadas na maioria dos estudos relacionados ao futebol (Leatt & Jacobs, 1988, 1989; Nicholas e col., 1995; Ostojic & Mazic, 2002; Welsh e col., 2002). Existem várias razões que explicam porque as bebidas esportivas são geralmente melhores que a água para a reidratação durante o exercício. Essas bebidas contêm cloreto de sódio e carboidratos como a sacarose e glicose. Comparadas à água pura, maior quantidade de água é absorvida mais rapidamente do intestino para o sangue quando sódio e carboidratos estão presentes no intestino (Greenleaf e col., 1988; Shi e col., 1995). Os carboidratos, obviamente, podem fornecer energia extra, principalmente nos momentos finais de uma partida. Alguns jogadores de futebol também perdem uma grande quantidade de sódio pelo suor (Maughan e col., 2004), e esse sal precisa ser reposto se quisermos manter a hidratação. Além desse efeito benéfico de aumentar a captação de água pelo intestino, o sal nas bebidas esportivas atua no cérebro estimulando a sede e a ingestão, e nos rins, minimizando a formação de urina, dessa forma melhorando a capacidade de retenção de água do organismo. Finalmente, quando os atletas estão suados, seu consumo de uma bebida esportiva de sabor agradável é comprovadamente maior que o de água pura (Passe e col., 2004).Glicose, sacarose, frutose e maltodextrinas (polímeros de glicose, que após a digestão são quebradas em moléculas de glicose) são os carboidratos adequados para serem inclusos nas bebidas esportivas. De fato, como cada tipo de carboidrato aumenta a absorção de líquidos do intestino por mecanismos diferentes, a presença de diversos tipos de carboidratos em uma bebida de reposição pode ser benéfica (Shi e col., 1995). Entretanto, a frutose não deve ser o único carboidrato presente em uma bebida esportiva porque é absorvida lentamente no intestino e pode causar desconforto abdominal, náuseas ou diarréia quando em concentrações maiores que aproximadamente 3 - 4%. A concentração total de carboidratos em uma bebida esportiva deve ser de 5 - 7%, ou seja, 5 - 7 gramas a cada 100 ml da bebida (12 - 17g/ 240 ml). É menos provável que concentrações menores que essa promovam algum benefício no desempenho, e o esvaziamento gástrico de concentrações maiores é mais lento, com tendências a causar desconforto abdominal. O sódio é o eletrólito mais importante nas bebidas esportivas porque é perdido no suor e tem o efeito mais potente na estimulação da reidratação. Potássio, cálcio, magnésio e outros eletrólitos têm um papel relativamente menor no que se refere à reidratação, mas as bebidas esportivas contêm ao menos alguns desses em pequenas quantidades.
A reidratação após os treinos ou competições
É importante para os jogadores de futebol, principalmente para aqueles envolvidos em torneios que exigem rápida recuperação entre os jogos, que a reposição das perdas pelo suor seja feita posteriormente quando a ingestão de líquidos durante o jogo não foi suficiente. Como a ingestão de líquidos estimula a produção de urina, no período de recuperação, os jogadores precisam beber um volume maior que o peso perdido. A recomendação atual é que bebam um volume cerca de 50% maior que o peso perdido, por exemplo, 1,5 l/kg de peso perdido (Shirreffs e col., 1996). Bebidas esportivas são melhores para reidratação após o exercício porque repõem água, carboidratos e eletrólitos, e também estimulam a sede e minimizam a produção de urina.
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