Jogos Reduzidos versus Jogos Condicionados
Jogos Reduzidos
versus Jogos Condicionados
Vantagens e desvantagens
destas metodologias de treinamento
Paulo Cesar do Nascimento*
Cada vez mais, os profissionais da área
têm procurado alternativas para aprimorar e especificar a prescrição e o
controle do treinamento no futebol a fim de acompanhar a evolução dos aspectos
físicos e táticos da modalidade. Nos esportes coletivos de características
intermitentes, existe uma tendência a buscar métodos que possam aprimorar as
capacidades físicas juntamente com as qualidades técnicas e táticas a partir do
método global ou integrado. Nesse contexto, os jogos reduzidos aparecem como
uma proposta interessante de treinamento para o aprimoramento da performance de
jogadores de futebol (BANGSBO, 1994; DRUST; REILLY, 2000; IMPELIZZERI et al.,
2006; HILL-HAAS et al., 2011).
Apesar da constatação da importância
que aplicação de jogos reduzidos possui para o aprimoramento da performance de
atletas de modalidades intermitentes, ainda há uma lacuna na literatura
científica de estudos que analisaram o efeito desse modelo de treinamento no
futebol.
Alguns estudos encontrados na
literatura científica investigaram métodos específicos a partir de jogos
reduzidos no futebol e os efeitos nas qualidades físicas da modalidade (DRUST;
REILLY, 2000; REILLY; GILBOURNE, 2003; IMPELIZZERI et al., 2006).
Impelizzeri et al. (2006) compararam o
efeito do treinamento de jogos reduzidos com o modelo de corrida intervalada de
alta intensidade (4 séries de 4 minutos a 90 % a 95 % da frequência cardíaca
máxima com recuperação ativa de 3 minutos para ambos os métodos), duas vezes
por semana em jogadores adolescentes de futebol. Este trabalho demonstrou que o
treinamento no modelo de jogos reduzidos realizado nessa intensidade da
frequência cardíaca máxima - FCmáx (90% a 95%) proporcionou melhoras na
capacidade e potência aeróbia dos atletas de forma similar ao método de corrida
intervalada. Dessa forma, constata-se que é possível encontrar faixas de
intensidades de esforço durante os jogos reduzidos que possibilitem o
treinamento nos diferentes domínios fisiológicos (moderado, pesado e severo),
para melhorar o condicionamento aeróbio e a performance dos atletas (BANGSBO,
1994; DRUST; REILLY, 2000; REILLY; GILBOURNE, 2003; HILL-HAAS et al., 2011).
O treinamento no modelo de jogos
reduzidos pode alcançar uma intensidade de exercício adequada para melhorar
tanto o condicionamento específico de modalidades intermitentes (testes de
campo), como variáveis aeróbias, assim como o consumo máximo de oxigênio (VO2max)
e os limiares de transição fisiológica (DA SILVA et al., 2011). Assim, a
preparação física deve ser baseada na realização de exercícios específicos da
modalidade, visto que os mesmos resultarão em modificações anatômicas e
fisiológicas que se relacionam as necessidades da mesma (DA SILVA et al.,
2011).
Assim, esse tipo de treinamento parece
ser uma alternativa eficiente para aprimorar a performance aeróbia em esportes
coletivos, ativando grupos musculares que são requeridos durante os jogos
(IMPELIZZERI et al., 2006), tendo benefícios tais como: reproduzir as demandas
de movimentação, intensidade fisiológica e a técnica requerida para jogar uma
partida (HILL-HAAS et al., 2011; DA SILVA et al., 2011).
Entretanto existe uma confusão na
prática por parte dos profissionais na aplicação dos jogos reduzidos e dos
jogos condicionados. Entre os adeptos da primeira metodologia muitos utilizam
somente (ou como foco principal) com ênfase no aprimoramento físico. As
principais regras impostas durante a aplicação desta metodologia (espaço
reduzido, menos elementos envolvidos e numero de toques na bola limitados para
cada jogador) são estritamente para o controle da relação volume/intensidade.
Ainda há aqueles que utilizam os jogos reduzidos dentro da metodologia do treinamento
integral, como parte de um aprimoramento físico específico.
Com os chamados jogos condicionados,
que se convencionou assim dizer a partir de algum tempo atrás, mas na verdade
nada mais são que os jogos desportivos coletivos, os já então conhecidos como
JDC’s, os quais foram propagados em grande parte pelo professor Garganta e seus
colaboradores (do grupo de estudo da Faculdade de Desporto da Universidade do
Porto - FADEUP), mas que surgiram originalmente com o professor Claude Bayer
com a obra que impulsionou essa discussão “O ensino dos desportos coletivos”
(1994) publicada originalmente na França em 1979.
Importante ressaltar esta nova forma de
conceber o ensino do esporte coletivo, iniciada por Claude Bayer e ampliada
pelos autores portugueses, vem rediscutindo a técnica aliada à discussão da
tática. Mais tarde, na década de 1990 surgiu o trabalho “O Ensino dos Jogos
Desportivos”, coletânea organizada por Amandio Graça e José de Oliveira de
1995, fruto do trabalho do Centro de Estudos dos Jogos Desportivos, da FADEUP.
Diferente da maneira que os jogos
reduzidos são vistos ou aplicados, os jogos condicionados ou JDC’s podem de
maneira semelhante, a partir do uso das mesmas regras (espaço reduzido, menos
jogadores e numero de toques na bola limitados) aprimorarem o condicionamento
físico dos atletas de futebol, mas não necessariamente dessa forma, pois podem
ser realizados com a ótica do jogo formal adaptado.
Além disso, esta metodologia extrapola o aprimoramento físico/técnico, alcançando um aprimoramento tático e de tomada de decisão dos jogadores. Com normas estabelecidas e regras que busquem um objetivo para a atividade, seja ele qual for aprendizagem/fixação dos princípios táticos de jogo ou como agir frente a determinadas situações da partida dentro do modelo de jogo da equipe, os jogos condicionados geram um aprendizado e
Além disso, esta metodologia extrapola o aprimoramento físico/técnico, alcançando um aprimoramento tático e de tomada de decisão dos jogadores. Com normas estabelecidas e regras que busquem um objetivo para a atividade, seja ele qual for aprendizagem/fixação dos princípios táticos de jogo ou como agir frente a determinadas situações da partida dentro do modelo de jogo da equipe, os jogos condicionados geram um aprendizado e
stratégico/tático com sua aplicação.
Para Da Silva (1998) a construção do
conhecimento nos jogos condicionados se deve edificar a partir de perspectivas
que se focalizem na lógica interna ou natureza do jogo. A lógica interna do
jogo é o produto da interação contínua entre as principais convenções do
regulamento e a evolução das soluções práticas encontradas pelos jogadores,
decorrentes das suas habilidades táticas, técnicas e físicas.
Dessa forma, se os jogos reduzidos
forem conduzidos com objetivos bem determinados quanto aos princípios táticos
ou idealizado com intenção de uma evolução de aprendizagem dentro do modelo de
jogo pretendido, nada mais é, ou tornam-se jogos condicionados. Ainda é preciso
criar nos atletas a consciência da natureza do jogo, que é além de outras
características, imprevisível. Por isso, ao buscar criar/idealizar um jogo
condicionado é preciso saber que deve haver uma liberdade para a tomada de decisão
por parte dos atletas e também serão necessárias alternativas ou variações da
atividade para proporcionar um aprendizado aprimorado. Agora vejamos o exemplo
a seguir:
Este é um exemplo de uma atividade de
jogo condicionado para introduzir para uma atividade mais próxima do jogo
formal. Joga-se em um espaço próximo de 2/4 de campo com um numero de elementos
de 7x7 mais goleiros (numero dependente do esquema tático adotado).
Divide-se o campo de jogo em quatro
setores e por ser um exercício introdutório tem um caráter mais abrangente com
objetivo principal de trabalhar a compactação e os blocos defensivos e
ofensivos e/ou unidade defensiva e ofensiva para preparar para exercícios mais
específicos de acordo com o planejamento. Para tal a regra mais importante é a
de que tanto a equipe que ataca quanto a que defende deve estar nos dois
setores mais próximos da bola.
Após esse primeiro momento, deve-se ir
introduzindo variações tais como a transição rápida para os dois setores
ofensivos em um determinado tempo ou numero de toques na bola com ou sem posse
de bola em um segundo momento, e num terceiro momento a realização da pressão
para retomar a posse da bola no setor onde ela foi perdida. Deve-se também
criar diferentes pontuações para o gol e para cada regra adotada afim de
estimular mais a prática e o aprendizado. Importante também são os momentos de
reflexão entre as atividades para conferir o nível de entendimento de cada
jogador.
Exemplo 2:
Esta atividade é um exemplo de jogo
condicionado mais complexo, ou seja, muito próximo da ótica do jogo formal (provavelmente
muitos discordem que se assemelhe dos jogos reduzidos). No exemplo acima
joga-se em 10 atletas contra 8 mais o goleiro. O objetivo principal da
atividade é o trabalho da defesa a zona. Para isso divide-se o campo de defesa
em setores (3 na horizontal e 3 na vertical, linha pontilhada). Os princípios
táticos que podem ser trabalhados como objetivo do exercício são a unidade
defensiva, contenção e cobertura defensiva, e os sub-princípios tais como
concentração defensiva, ataque a ala da bola, dobras de marcação, entre outros.
A intenção da atividade é que os atletas formem as duas linhas de quatro (dependente do esquema tático) da maneira mais adequada possível as situações de jogo e aplicando os princípios e sub-princípios desejados. Para tal coloca-se regra de que a equipe que defende precisa estar dentro dos dois setores mais próximos do local onde está o portador da bola.
A intenção da atividade é que os atletas formem as duas linhas de quatro (dependente do esquema tático) da maneira mais adequada possível as situações de jogo e aplicando os princípios e sub-princípios desejados. Para tal coloca-se regra de que a equipe que defende precisa estar dentro dos dois setores mais próximos do local onde está o portador da bola.
Além disso princípios ofensivos também
são trabalhados, tais como infiltração e apoio ofensivo. Ainda a equipe que
defende o gol na trave normal ataca três traves pequenas (golzinhos). O
objetivo é fazer a equipe entender como armar o contra-ataque e/ou transição
ofensiva da melhor e mais rápida maneira possível. Para isso pode-se colocar
regras tais como o gol pelas laterais vale mais do que pelo meio, certo numero
de toques para chegar ao meio de campo ou um tempo determinado.
Como é uma atividade que aborda vários
aspectos deve-se ter o cuidado quanto em que momento aplica-lá no planejamento
e quanto ao feedback ou correção dada aos atletas, pois é comum corrigir os
aspectos que não são o objetivo principal do exercício.
Adicionalmente, com a utilização desse método as
habilidades técnicas e táticas são envolvidas e treinadas em condições
similares dos jogos, ou seja, um treinamento específico do esporte que promove
uma efetiva transferência ao ambiente competitivo (BANGSBO, 1994; HILL-HAAS et
al., 2011).
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