Acho muito Importante. Iniciação Esportiva
Iniciação Esportiva - aspectos
positivos e negativos da especialização esportiva precoce no futebol.
A criança não é
um adulto em miniatura e o professor também deve ter responsabilidade
pedagógica com ela
Diogo Willian de
Lima
As Modalidades Esportivas
Coletivas, desde a sua origem, têm sido praticadas pelas crianças e
adolescentes dos mais diferentes povos e nações. Sua evolução é constante,
ficando cada vez mais evidente seu caráter competitivo, regido por regras e
regulamentos (Teodorescu, 1984).
Entre todas as
Modalidades Esportivas Coletivas praticadas com bola, o futebol é a mais
apaixonante e que exige combinações mais complexas do sistema neuromuscular.
Sua história ou pré-história inicia na Ásia, primeiro na China, com o chamado
Tsú Chu, umas das primeiras referências ao jogo praticado com as mãos e com os
pés, e, depois na era medieval, no Japão, com o nome de Kemari (Rose Junior,
2006).
Na sociedade
contemporânea, o futebol tem se mostrado um fenômeno de grande relevância
sociocultural e é, também, amplamente vivenciado pelo brasileiro em seu
cotidiano e ressignificado a partir de sua institucionalização e de sua
apropriação pelos diversos grupos sociais. (Valentin; Coelho, 2005).
Filgueira e
Schwartz (2007) diz que no Brasil o futebol é um fenômeno cultural que cativa e
impressiona pela sua grandeza, cuja prática tem crescido rapidamente,
envolvendo um número significativo de participantes, desde a infância até a
vida adulta. O futebol é para os brasileiros, sem dúvida, mais do que um esporte:
uma paixão que faz parte da cultura.
Muitos jovens
brasileiros sonham em um dia poder ser um atleta profissional de futebol, na
intenção de unir a paixão que sentem pelo esporte à perspectiva de um futuro
melhor para si e suas famílias, com isso passam a praticá-lo vendo-o como um
caminho mais rápido de conseguirem sucesso e independência financeira.
Para isso, muitos
acabam recorrendo às escolinhas de futebol para se aperfeiçoarem nas técnicas
desse esporte e assim adquirirem a formação necessária que possa levá-los um
dia a ser um atleta profissional.
O que antes era
"privilégio" de prefeituras e clubes, hoje está sendo explorado, por
agências, ex-atletas e clubes nas formas de escolinhas de futebol.
Scaglia (2006)
mostra que as escolinhas ganharam espaço com a expansão imobiliária que acabou
provocando o desaparecimento de muitos campos de várzea existentes nas médias e
grandes cidades brasileiras. Implantadas como alternativa para a formação de
novos atletas para o futebol brasileiro, as escolinhas fizeram com que o
futebol, que antes era jogado de forma aberta e espontânea nos campos de
peladas espalhados pelo Brasil, passasse a ser praticado em locais quase sempre
fechados - muitos deles sob a responsabilidade de ex-atletas - que viram nisso
uma oportunidade de poderem repassar aos seus alunos o que aprenderam dentro do
futebol, e também uma forma de explorarem lucrativamente essa atividade.
Não é o suficiente
que alguém tenha jogado futebol para ser um técnico deste esporte (Lembrando
que existem profissionais altamente capacitados que foram atletas e tornaram-se
excelentes treinadores, posteriormente em equipes profissionais), no que se
refere ao treinamento ou trabalho com crianças.
É necessário, também,
que este profissional conheça sobre o que Zakharov (1992) citado por Gomes e
Machado (1999) chama de períodos sensitíveis do treinamento, que são os
períodos etários em que as influências específicas de treino no organismo
humano provocam elevada reação de resposta, que assegura os ritmos
consideráveis de crescimento da função em treinamento; que ele tenha
conhecimentos suficientes sobre a anatomia da criança; que possua boa
preparação psicológica e amplo conhecimento específico; é preciso ter noções
das etapas de desenvolvimento desportivo até atingir a fase adulta competitiva;
e que ele saiba com aproveitar as fases de desenvolvimento da criança.
Este trabalho
levando em consideração o crescente numero de escolinhas de futebol e o numero
elevado de profissionais que se interessam pela área ocupa-se de criar
subsídios aos profissionais que atuam na área do ensino/ treinamento de futebol
para crianças.
Há intenção aqui
não é, entretanto, formar uma única maneira de treinamento para essa faixa
etária. Mas, sim, fazer com que os profissionais que dele tomarem conhecimento,
sejam levados a refletir sobre os treinamentos, buscando outros caminhos,
auxiliando o desenvolvimento não só do futebol - levando até a realização de
estudos futuros, uma vez que há pouca literatura sobre o tema.
Especialização
Esportiva Precoce
A Especialização
Precoce (EP) é um processo que vem sendo a tempos discutido por especialistas
em treinamento esportivo, e consequentemente no meio futebolístico. Para
Personne (1987) "iniciação esportiva precoce" é a atividade esportiva
desenvolvida antes da puberdade, caracterizada por uma alta dedicação aos
treinamentos (mais de 10 horas semanais) e principalmente por ter uma
finalidade eminentemente competitiva.
Já Kunz (1994),
referindo-se a "treinamento especializado precoce", entende que este
ocorre quando crianças são introduzidas antes da fase pubertária a um processo
de treinamento planejado e organizado em longo prazo, que se efetiva em um
mínimo de três sessões semanais com o objetivo do gradual aumento do
rendimento, além da participação periódica em competições.
Para Krebs (1992),
a especialização se da quando o atleta tem um sistema de treinos levados a
picos máximos de sua capacidade, acompanhados de competições de nível elevado,
havendo um relacionamento em tempo quase que integral entre o técnico e o
atleta.
Iniciação
Esportiva no Futebol
Para aprender a
jogar um esporte qualquer, uma criança deve ter a oportunidade de experimentar
um número grande de situações. Cada situação dessas será responsável pela
abertura de um grande número de possibilidades, sendo que, cada possibilidade
dessas, quando for experimentada, poderá abrir outras tantas.
Ao final de um
longo processo, o acervo de possibilidades motoras, intelectuais, sociais, morais,
e assim por diante, disponível no jovem que se formou nesse esporte, será
imensamente mais amplo que no jovem formado em uma equipe ou escolinha que lhe
impôs um sistema de superespecialização (Freire, 2002).
O primeiro fator a
ser considerado são as fases de desenvolvimento físico da criança. Existe uma
série de transformações ou mudanças da estrutura física da criança na faixa de
idade da iniciação no futebol, compreendida nas chamadas categorias menores de
07 á 13 anos de idade.
É importante
considerar, na iniciação esportiva, a idade biológica, o nível de coordenação
motora e o grau de inteligência para a elaboração das atividades a serem
desenvolvidas pela criança, a fim de contribuir com o maior número de vivências
motoras possíveis.
Na formação de
base, todas as coisas devem ser aprendidas por experiências as mais
diversificadas possíveis (Freire, 2002). Haveria outro caminho a seguir no
desenvolvimento esportivo que não esse percorrido tradicionalmente, que inclui,
nos casos extremos, especialização precoce, contusões, limitações da
inteligência, excessos de treinamento?
Claro que há, e
foi seguido por vários excepcionais atletas do futebol, entre eles, Garrincha,
Pelé e Maradona, que aprenderam enquanto brincavam, como qualquer criança de
vida normal. Fossem nossos técnicos esportivos melhores observadores,
encontrariam nesses fenômenos esportivos a orientação mais segura para suas
pedagogias (Freire, 2002).
A prática do
futebol, na iniciação esportiva, se manifesta através do jogo, nas diversas manifestações
lúdicas que podem ser instituídas na aprendizagem do futebol.
O jogador de
qualidade é aquele que vivencia um número enorme de possibilidades e, para cada
situação do jogo, ele encontra a melhor. O jogador de hoje tem poucas
possibilidades, imposta por rotinas exaustivas e limitadas, portanto, formando
um jogador de pouca qualidade, o que torna o jogo de menor qualidade com
movimentos estereotipados, sem qualidade. Por isso, estamos cada vez mais
frequentemente vendo jogadores de baixo nível técnico e equipes de péssima
qualidade.
Aspectos Negativos
Da Especialização Esportiva Precoce
Aspectos físicos
Negrão (1980)
alerta para os danos físicos que podem ser ocasionados pelo esporte altamente
competitivo praticado em idade precoce. O trabalho muscular intenso excessivo,
associado a sobrecarga emocional que a competição provoca, pode ocasionar
perturbações no desenvolvimento normal da criança, principalmente no ritmo do
crescimento em altura e no desenvolvimento somático, funcional e intelectual.
O esporte
competitivo implica treinamentos específicos de cada modalidade, o que poucas
vezes vem ao encontro das necessidades fisiológicas da criança. Para Negrão
(1980), crianças só podem suportar esforços reduzidos, fisiologistas renomados,
são unânimes em afirmar a importância de treinamento aeróbico para crianças.
Nahas (1980) diz
ainda que, quando a intensidade e a frequência das atividades competitivas são
grandes e extrapola o ambiente escolar e grupal, exigindo da criança um grau de
especialização incomum para a idade em que se encontra, passam a existir
dúvidas consideráveis sobre se os benefícios para um desenvolvimento ótimo são
importantes bastante para se desprezarem os perigos de lesões e traumas
psicológicos (às vezes irreparáveis).
As possíveis
consequências de se especializar a criança precocemente estão diretamente
ligadas ao fato de se adotar, por longo período de tempo, uma metodologia
incompatível com as características, interesses e necessidades dela. Logo, os
possíveis efeitos podem não se manifestar diretamente, mas no decorrer de
temporadas (Santana, apud Ramos e Neves, 2008).
A respeito disso,
Kunz (1994) apud Ramos e Neves (2008), diz que os maiores problemas que um
treinamento especializado precoce provoca sobre a vida da criança e
especialmente seu futuro, após encerrar a carreira esportiva, podem ser
enumerados como:
a) formação
escolar deficiente, devido à grande exigência em acompanhar com êxito a
carreira esportiva;
b) a
unilateralização de um desenvolvimento que deveria ser plural,
c) reduzida
participação em atividades, brincadeiras e jogos do mundo infantil,
indispensáveis para o desenvolvimento da personalidade na infância.
Santana (2005)
apud Ramos e Neves (2008), acrescenta mais alguns riscos da especialização
precoce na criança:
a) stresse de
competição: que se caracteriza por um sentimento de medo e insegurança, causado
principalmente por conflitos oriundos de uma prática excessivamente
competitiva. A criança, neste caso, tem medo de errar, sente-se insegura e com
a auto-estima ameaçada;
b) saturação
esportiva: que se manifesta quando a criança apresenta sinais de desânimo
(enjôo) e desinteresse em continuar a prática do esporte. Sente-se, assim
porque o praticou em excesso e quer abandoná-lo.
Teixeira (1981)
diz, durante nossa longa vivencia esportiva, o que chamamos de "síndrome
da saturação esportiva". Indivíduos que iniciaram muito cedo a pratica
esportiva especializada são acometidos por essa síndrome, caracterizada por
certa aversão pelo esporte que praticam, exatamente naquele momento em que
deveriam praticá-lo com mais intensidade (adolescência).
Também é bastante
discutido o fato estarem desde muito cedo especializados em determinada função,
no caso dos jogadores de futebol, limitando–os a uma posição específica dentro
da equipe, o que, certamente, pode limitar suas possibilidades de ação no
futuro.
Exemplo bem
característico deste acontecimento é o fato de muitos treinadores optarem por
relacionar alguns jogadores, que se apresentam em estágios de crescimento mais
avançados que a média para a categoria, para jogarem exclusivamente de
atacantes aproveitando da maior força adquirida com o crescimento.
Porém, mesmo com
todo êxito conseguido na juventude, muitos destes jogadores falham em idades
mais avançadas por não serem capazes de atuar contra jogadores que apresentam
níveis de força equiparados ou mesmo superioresuma realidade nas idades mais
avançadas e nos profissionais.
Aspectos Positivos
da Especialização Esportiva Precoce
Segundo
Estigarriba (2005), a criança na prática esportiva vivência a cooperação, o
convívio social, desenvolve o respeito pelos outros, a competitividade sadia, o
espírito de equipe, disciplina e a persistência.
Nunes e Gonçalves
(2008) entrevistaram os professores das instituições que participaram do
campeonato: Copa Bahamas de Futsal 2007 e de acordo com a opinião dos
entrevistados são apresentados como aspectos positivos fundamentais em uma
competição: o entrosamento, a convivência, o lúdico, o espírito de grupo, a
coletividade, o respeito às regras, a integração, a participação, a
responsabilidade e o aprendizado que se tira com a vitória com a derrota.
Mostrando-se assim
que o esporte ou a prática esportiva nas categorias de iniciação é muito mais
do que competir, que ganhar e perder, é ter motivação, é viver momentos, e
fazer amigos, além de desenvolver o físico e o bem-estar.
Considerações
Finais
A iniciação ao
futebol é ideal para adquirir habilidades coordenativas motoras básicas. A
princípio, o treinamento técnico deve objetivar a aprendizagem de movimentos, e
não o gesto técnico específico do futebol.
Deve-se lembrar de
que a criança é levada à prática do influenciado pelo meio e aspirando
tornar-se um atleta profissional de futebol. Mas, para que isto aconteça,
deve-se considerar que este pequeno atleta não pode ser submetido ao mesmo
processo de formação técnica e competitiva dos adultos.
O trabalho feito
com crianças deve ter a adaptação adequada para ela, considerando seu
desenvolvimento, além de respeitar também os seus interesses. Gomes e Machado
(1999)
WeineckK (1991)
diz que no período dos 09 aos 12 anos, a criança encontra-se na primeira
infância escolar (09 anos) e infância escolar tardia (10/11 e 12 anos). Este
período de tempo compreende a época de melhor aproveitamento para a
aprendizagem dos gestos esportivos sem, entretanto, propor a formação
especificada de gestos.
Isto se explica
pelo fato de que a criança nesta idade já passou por um período de aprendizagem
multilateral e plurificado, formando uma ampla gama de movimentos
generalizados, que formam uma base consistente para o aprendizado de movimentos
com maior teor técnico.
A estratégia ou
planejamento tático deve ser simples sem muitas variações de jogo (defensivas e
ofensivas), podendo ser em forma de jogos reduzidos com elementos e objetivos
essenciais ao jogo formal.
Para concluir,
lembramos que a criança não é um adulto em miniatura e que o professor além de
sua tarefa técnica, também deve ter responsabilidade pedagógica com o futuro da
criança a ele confiado.
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