Da solução estrutural à solução de fato
Sistema 1-4-2-3-1: da solução estrutural à solução de fato
Partindo
dos problemas estruturais a serem resolvidos no jogo, esse esquema tático vem
sendo muito utilizado pelos treinadores atualmente
Leandro
Zago.
“Tão importante quanto
visualizá-la de maneira estática é o
treinador compreender toda a dinâmica relacional da plataforma”
(Zago in Arruda etc. al, 2013, p. 441)
treinador compreender toda a dinâmica relacional da plataforma”
(Zago in Arruda etc. al, 2013, p. 441)
O esquema tático (ou plataforma tática) 1-4-2-3-1 vem sendo muito
utilizado por todo o futebol mundial, inclusive no Brasil. Assim como aconteceu
com o 1-4-4-2, depois com o 1-3-5-2, o 1-4-2-3-1 passou a ser visto como a
solução de todos os problemas.
Entender porque um esquema tático se torna mais
"popular" entre os treinadores talvez seja tão ou mais fundamental do
que entender o próprio esquema. Em geral, esse esquema se apresenta das
seguintes formas apresentadas abaixo.
Figura 1 – Variações
estruturais básicas do 1-4-2-3-1
Basicamente, o 1-4-2-3-1 se apresenta nas três formas apresentadas
acima ao longo do jogo e, dependendo das características dos jogadores e da
proposta de jogo com mais regularidade em uma delas, porém passando
ocasionalmente pelas outras duas.
Na estruturação original, o primeiro campo corresponde ao esquema
montado com dois volantes e três meias. No campo central, os alas devem possuir
características para tal função. E no campo da direita, as características dos
jogadores das laterais da linha de meias (?!) normalmente são atacantes que não
de referência.
Figura 2 – Hierarquia das
Interações entre os meias e atacantes
Ao longo do jogo, dependendo da posição da bola e da equipe que
detém a posse, o esquema tático vai se deformando para se ajustar às
necessidades momentâneas (recuperação da bola, direcionamento do jogo do
adversário, construção do jogo, fase de finalização, etc.).
O 4-2-3-1 geralmente passa pelos arranjos apresentados (figura 1)
durante o jogo pela proximidade dessas posições com a que seus jogadores ocupam
em campo mais naturalmente. Porém, em muitos casos, apesar de considerar que
esse esquema tático é a base para as outras variações, o que vai definir
realmente o esquema tático é a forma como os jogadores interagem em campo.
Na figura 2, as setas laranjas indicam uma "relação mais
forte" entre os jogadores do setor, enquanto as setas pretas indicam uma
"relação menos forte" entre seus membros. Portanto, independentemente
de como o esquema é nomeado, o que vai defini-lo é o resultado dessas interações.
Nas três situações (figura 2) os meias / alas / atacantes podem
ser assim chamados de acordo com os parceiros com quem interajam mais
fortemente. No primeiro campo (figura 2), a linha com três meias realiza suas
dinâmicas baseado primeiramente nos comportamentos de seus companheiros dessa
linha.
A linha possui dinâmicas que então conectadas com as da equipe. Há
uma hierarquia, que respeita e integra essas dinâmicas num todo funcional em
direção à eficácia no jogo. No campo central, os alas interagem mais fortemente
com a linha de volantes e menos fortemente com o meia central.
Como produto, a equipe trabalha mais em uma plataforma 1-4-4-1-1
pela forma como estrutura o espaço na solução dos problemas do jogo. No campo
da direita, há uma interação maior com o atacante centralizado do que com o
meia do centro.
Visualmente, emerge o 1-4-3(2-1)-3. A relação não acontece
apenas no nível espacial, portanto, mesmo que a equipe transite entre os três
desenhos, será atraída para uma configuração em especial.
Figura 3 – Duas
possibilidades para a Pressão Alta (Linha 1)
Acima são apresentadas duas possibilidades de estruturação
espacial para a pressão na referida plataforma tática. No primeiro modelo, a
"linha de 4" defensiva fica preservada e os volantes flutuam de
maneira mais agressiva para o lado da bola compensando a manutenção do lateral
na linha.
Como vantagem, a linha defensiva fica mais larga, porém uma zona
frágil tem que ser administrada no centro (oposto à bola) conforme destacado na
figura 3 (retângulo horizontal vermelho).
Com a subida do lateral fechando a paralela, o centro do campo
fica mais povoado (modelo à direita na figura 3), porém a linha defensiva fica
mais estreita, com maior fragilidade às diagonais longas (zona vermelha –
retângulo vertical).
Obviamente, a abordagem do jogador que pressiona a bola muda em
função do tipo de pressão (direcionando para o centro ou para a paralela).
Figura 4 – Posicionamento
para Pressão a partir da Linha 2
Do ponto de vista estrutural, a pressão a partir da linha 2
(intermediária de ataque) é melhor acomodada pela plataforma do que a pressão
alta (linha 1).
Os espaços entre os laterais e os meias do mesmo lado (LD – MD e
LE – ME), são mais facilmente diminuídos e a necessidade de ajustes é menor,
conforme demonstrado na figura 3. Habitualmente, a pressão inicia quando a bola
é direcionada para uma das laterais, conforme o campo da direita da figura 4.
Dependendo do princípio operacional (recuperação da bola ou
impedir a progressão) o atacante se comporta de maneira diferente. Para a
recuperação, ele busca manter a bola na zona para poder ser pressionada
(tirando linha de passe no zagueiro ou que permita a virada). Se o objetivo for
impedir a progressão, ele pode entrar atrás da linha da bola novamente e permitir
a circulação.
Figura 5 – Organização
defensiva na linha 4 e balanço ofensivo
Dentre as possibilidades de organização defensiva na linha 4
(intermediária defensiva) que o esquema tático permite duas estão apresentadas
na figura 5.
No campo da esquerda, a opção é por uma proporção (Leitão, 2009)
mais conservadora do ponto de vista numérico com viés defensivo, enquanto no
campo da direita há uma proporção mais ousada.
A proporção é um conceito das duas fases de transição
(ataque-defesa e defesa-ataque) que, segundo o autor, relativiza o número de
jogadores que estão efetivamente "defendendo" ou "atacando"
sem que isso possa parecer uma fragmentação, apenas como sistematização do
conteúdo.
No campo à esquerda a proporção é de (2 x [8 + G]), ou seja, dois
jogadores com preocupações já ofensivas no caso da recuperação da bola e nove
(goleiro incluso) jogadores envolvidos mais diretamente com a sua recuperação.
No campo da direita a proporção é de (4 x [6 + G]).
Naturalmente, a ocupação do espaço pelos jogadores permite um
balanço ofensivo (em destaque no campo à direita) que rapidamente pode deixar o
ataque com boa amplitude (MD e ME) e profundidade (AT).
Em compensação, com esse balanço, a marcação em largura
(equilíbrio horizontal) fica prejudicada. O posicionamento do campo à esquerda
oferece um melhor equilíbrio defensivo (em largura inclusive), porém, no
movimento seguinte à recuperação o tempo para ocupar o campo de ataque é maior.
Figura 6 – Balanço
defensivo
Na figura 6 são mostradas duas possibilidades de balanço defensivo
com a estrutura e a proporção (6 x [4 + G]) mantidas, mas com variação dos
jogadores que o realizam. No campo à esquerda, um volante faz o balanço da
jogada (VD) e o outro da equipe (VE).
No outro modelo, o lateral faz o balanço da jogada (LD) e o
volante do lado da bola (VD) o da equipe, com o outro volante (VE) mais
adiantado. O balanço defensivo do campo à esquerda, coloca mais jogadores na
lateral em que está a bola (aumentado as chances de triangulações) enquanto o
balanço defensivo do campo à direita preenche mais a faixa central.
As vantagens e desvantagens devem ser pesadas. Há muitas outras
possibilidades, como o lateral oposto no balanço (5 x [5 + G]), por exemplo.
De maneira consciente ou intuitiva, o 4-2-3-1 ganhou espaço no
Brasil quando algumas preocupações coletivas começaram a nortear as ações dos
treinadores. Em boa parte das situações, o esquema ainda é utilizado por permitir
encaixes individuais mais facilmente.
Originalmente com três meias, conforme apresentado, no Brasil é
mais normal observá-lo com dois atacantes abertos (seria um 1-4-3-3?) e um mais
centralizado ou até com um atacante aberto de um lado e um meia no outro, quase
um 1-4-4-2 "disfarçado".
O
esquema ou plataforma tática não se esgota nele mesmo. Todos os conceitos
discutidos podem ser resolvidos em outros esquemas, desde que a essência do
problema seja entendida.
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