A importância da Educação Física



As aulas de Educação Física nas escolas são o espaço adequado para a descoberta e desenvolvimento de futuros atletas?

Com os resultados do Brasil aumentando cada vez mais nos jogos Olímpicos, vem gerando um intenso debate a respeito de um assunto: “como o país pode descobrir e desenvolver novos talentos esportivos?”. A resposta uníssona, inclusive de órgãos governamentais, foi o investimento na Educação Física nas escolas. Embora essa lógica guarde um fundo de verdade – pois é através da Educação Física que muitas crianças se iniciam no esporte – ela acaba gerando outro entendimento: a de que as aulas da disciplina são o espaço ideal para a descoberta e o desenvolvimento de futuros atletas de alto rendimento. Mas será que pode e deve ser assim?

A questão é que a descoberta de novos talentos esportivos pressupõe uma seleção, enquanto a Educação Física Escolar objetiva a inclusão. “A Educação Física precisa ensinar algo, os alunos precisam aprender algo. Este algo tem sido chamado cultura do movimento corporal, que inclui em suas manifestações o jogo, o esporte, a luta, a dança e a ginástica. Reconhecemos a importância do esporte, pelo seu poder motivacional junto aos alunos, e pelos interesses econômicos e políticos que o envolvem. Mas não é verdade que todos os alunos gostam ou preferem o esporte a outras práticas da cultura do movimento corporal, principalmente quando falamos do ensino tradicional, que tende mais a excluir do que incluir os alunos na prática esportiva”, avalia o profissional Mauro Betti (CREF 052077-G/SP), pesquisador da Unesp e líder do Grupo de Estudos Socioculturais, Históricos e Pedagógicos da Educação Física.

Quando a cobrança pela descoberta de futuros atletas surge da sociedade e dos órgãos públicos, é necessário evidenciar a Educação Física Escolar como uma disciplina escolar igual a todas as outras, conforme exemplifica Betti: “Todo mundo concorda que a escola deve ensinar língua portuguesa e matemática. E por quê? Porque são conhecimentos indispensáveis na sociedade atual. Ninguém pensa que se deve aprender a ler e escrever para ganhar o prêmio Nobel de Literatura, não é verdade?”.

Mauro lembra que, historicamente, a formação de atletas no Brasil foi muito mais uma tradição dos clubes privados, e diversos tipos de associações no âmbito da sociedade civil, do que uma missão das escolas. “Vejam o exemplo do judô, estruturado com base em academias privadas, e que tem obtido algumas medalhas em Jogos Olímpicos. Ocorre que os clubes privados tradicionais estão em crise; por exemplo, um dos clubes que eu frequentava enquanto adolescente na cidade de São Paulo, na década de 1970, e que mantinha equipes esportivas, fechou alguns anos atrás”, analisa.

Em vista desse cenário, como seria possível descobrir e desenvolver os futuros atletas de alto rendimento? “É rara a cidade brasileira (exceto talvez nas regiões mais pobres) que não tenha uma quadra ou ginásio de esporte vinculado ao poder municipal ou estadual. E também, não raramente, estes equipamentos são mal aproveita- dos, porque não temos de fato em nosso país uma política esportiva articulada entre os diversos níveis dos poderes executivos, nem entre as diversas dimensões do esporte. Creio que seria mais produtivo pensar nas secretarias ou departamentos de esporte das prefeituras e estados, assim como nas entidades da sociedade civil – federações, OSCIPs etc – como corresponsáveis pela formação de atletas, do que as escolas”, acredita Betti.
Experiência no Rio de Janeiro

O município do Rio de Janeiro iniciou uma experiência que baseia a descoberta e desenvolvimento de talentos esportivos no âmbito da escola, com a criação do Ginásio Experimental Olímpico Juan Antônio Samaranch. A escola atende do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental, e funciona em regime integral, das 7h30 às 17h30. Além das aulas, os estudantes recebem treinamento em sete modalidades: atletismo, xadrez, tênis de mesa, judô, futebol, handebol e vôlei. “São escolas que integram excelência acadêmica à prática desportiva, com atendimento em turno integral e pelo menos duas horas diárias de prática desportiva”, detalha a secretária municipal de Educação, Claudia Costin.

Mesmo em uma escola voltada para a identificação de futuros atletas de alto rendimento, as aulas de Educação Física não estão relacionadas ao treinamento esportivo. De acordo com o site do projeto, as aulas são orientadas pela cultura do movimento corporal, com jogos, ginástica, atividades rítmico-expressivo-acrobáticas, lutas e esportes juvenis – nada muito diferente do que deveria ser a Educação Física em qualquer escola brasileira. “Os Ginásios Olímpicos não só dão condições para a descoberta de talentos, como também abrem caminho para a formação em outras áreas do esporte. Não queremos formar futuros atletas, apenas. Queremos dar oportunidades para que destas escolas também saiam futuros profissionais da medicina esportiva, por exemplo”, explica Claudia.

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