ESTRUTURA TÁTICA DO BARCELONA F.C.
A partir das Estruturas construídas
no campo de jogo muitas dinâmicas acontecem na Interação entre os jogadores
resultando em um futebol atrativo e efetivo
“Existe
alguma coisa a mais na vida, alguma coisa
não-material
e irredutível – um padrão de organização”
(Capra,
2006)
O Futebol apresentado pelo Barcelona,
nos últimos sete anos principalmente, tem chamado a atenção de todos que
acompanham essa equipe. Pela forma como os excelentes resultados que vem
sendo obtidos (em uma parte considerável desses resultados há uma grande
diferença de gols pró equipe catalã) são construídos, de uma maneira muito
consistente, alguns fatores emergem como destaques positivos. Dentro de uma
cultura de jogo muito definida (pode-se dizer também que há uma cultura do
clube que engloba uma cultura de jogo com interferência bidirecional), os comportamentos
de jogo (em sua maioria) são balizados por essa cultura, tendo por
consequência padrões de movimentação que, apesar de bem sistematizados,
interagem bem com o jogo do adversário criando as adequações necessárias na
grande maioria das vezes em que é preciso para resolver as adversidades que o
jogo propõe.
O Jogo do Barcelona é construído
numa Plataforma Tática de 1-4-3-3 com um goleiro muito ativo dentro dos
quatro momentos do jogo (organização ofensiva, transição ataque-defesa,
organização defensiva e transição defesa-ataque), uma linha de quatro
jogadores a sua frente muito habituada a jogar “alta” (avançada), um meio
campo com três jogadores disposto estruturalmente em um triângulo apontado
para trás e três atacantes que mantêm com certa regularidade também uma
estrutura em triângulo, porém apontada para frente. O foco desse artigo
está prioritariamente nesses dois triângulos formados pelos seis jogadores
(linha de meio campo e de ataque), porém sem jamais desconsiderar que
sistemicamente estão intimamente relacionados com as dinâmicas de toda a
equipe, como será visto a seguir.
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As estruturas estão presentes nas
mais diversas situações e obviamente deformam-se, aproximam-se, sobrepõe-se,
se afastam, ou seja, realizam uma gama muito ampla de movimentos para
resolver os problemas propostos pelo jogo.
O Barcelona está em Organização
Ofensiva, com um relativamente bom espaço efetivo de jogo e com mais jogadores
para trás da linha da bola (campo grande para trás), criando uma situação
mais favorável à circulação e manutenção da posse do que de progressão. É
interessante observar a reação da equipe como um todo e dos jogadores
(elementos) se comportando simultaneamente para atender essa necessidade
(manutenção da bola). São as convenções coletivas da quais todos compactuam,
construídas dentro do processo de treinamento que alguns jogadores dessa
equipe vivenciam desde o início da formação nas categorias de base do clube,
que permitem tal feito com tanta eficácia.
Com a defesa avançada (tentando
diminuir o espaço efetivo de jogo do adversário “dentro” da equipe) há uma
sobreposição devido à subida dos meias (Iniesta e Xavi) que estão tentando
pressionar a bola para desqualificar (no sentido de diminuir a qualidade)
qualquer tentativa do adversário. É o “campo pequeno a defender” neste caso,
porém com um espaço muito grande para ser gerido nas costas da linha de
defesa. Pode-se observar que mesmo em situações como esta, a Plataforma
Tática 1-4-3-3 está mantida e muitas estruturas em triângulo (estruturação do
espaço típica do modelo de jogo da equipe) poderiam ser construídas
selecionando aleatoriamente quaisquer três jogadores.
Assim como nos momentos, em que a organização
ofensiva, os jogadores se relacionam intra (relações internas do setor) e
inter (relações com outros setores) setorialmente para que a macro-estrutura.
Equipe possa atingir seus objetivos (marcar gols e vencer a partida). Na
tentativa de desequilibrar o adversário, várias trocas acontecem, jogadores
“atacam” espaços vazios, o lateral oposto mantém a boa amplitude da equipe,
atacantes se aproximam e se afastam, alguns jogadores ficam em zonas sem
pressão para uma necessidade de retirada da bola da zona de pressão e outra
infinidade de possibilidades. Segundo Capra (2006), a estrutura do organismo
apenas “condiciona o curso de suas interações e restringe as mudanças
estruturais que as interações podem desencadear nele”. Portanto, a estrutura
deve ser vista como meio, não como fim. A finalidade da preparação para o
jogo deve sempre manter relação com os objetivos do jogo (marcar gols e
impedir os gols do adversário) e a construção de estruturas tanto fixas como
móveis deve estar sub julgada a isso.
Há interações permanentes em uma
equipe de futebol. Em todas, sem exceção. A qualidade das interações é algo
único, que pertence a cada equipe, sendo um dos fatores que dão identidade a
ela. Os princípios de jogo que regem essas estruturas vão diferenciá-las em
fixas e móveis. Basicamente, nas estruturas fixas poucas trocas acontecem
(como no caso da linha de defesa do Barcelona) com uma maior rigidez
posicional e as estruturas móveis são caracterizadas por muitas trocas (linha
de meio campo do Barcelona, principalmente os jogadores Xavi e Iniesta).
Interessante como independente do tipo de estrutura da equipe, a mobilidade
ocorre sem descaracterizá-la também organizacionalmente.
Ao direcionar o olhar para as
estruturas, deve-se ter muito claro que existe uma dinâmica permanente que a
mantêm, não é algo estanque, parado, morto. E a “vida” que a equipe manifesta
surge desse movimento constante.
Referência Bibliográfica
Capra, F. (2006) A Teia da Vida: uma
nova compreensão científica dos sistemas vivos. São Paulo: Editora Cultrix.
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