O desenvolvimento do jovem jogador de futebol
O desenvolvimento do jovem jogador de futebol: A Ênfase deve ser na
técnica ou na tática?
Otávio Baggiotto Bettega
Ao analisarmos um jogo de futebol, a que ponto nossas apreciações se
aprofundam na subjetividade das situações, ou seja, no momento em que um
jogador erra um passe, buscamos justificar o erro no que vimos superficialmente
ou no que procuramos entender?
O erro se concentra na execução, relação do atleta com a bola, ou
circunda pela interação com companheiros e adversários? Intervenientes externos
ao contexto de jogo? O quão complexo podemos analisar que possamos facilitar
nossa operacionalização no treinamento ou até mesmo dificultar?
Dentre essa série de questões, começamos o texto com mais um
questionamento: no desenvolvimento do jovem jogador de futebol, a ênfase deve
ser na técnica ou na tática? Considera-se a técnica e a tática indissociáveis
na ação do jogador, mas na operacionalização dos treinamentos, geralmente,
enfatizamos uma dessas componentes.
O jogo de futebol é configurado com base nas ações motoras realizadas
pelos jogadores, tais ações estabelecem um sentido, congregando uma série de
significados, tanto para companheiros, como opositores e demais personagens do
ambiente de jogo. Nessa disposição, iniciamos a tecer algumas respostas e
justificar o trabalho com ênfase na técnica ou na tática a partir das
avaliações que diariamente surgem das conversas informais e das diferentes
plataformas midiáticas.
Voltando ao exemplo apontado no subtítulo, o erro de passe de um jogador
é avaliado constantemente com vistas somente objetivas, ou seja, a eficácia da
ação é reconhecida a partir da sua eficiência, sem atribuir considerações
perante a circunstancia momentânea disposta. Desse modo, se considerarmos a
avaliação do jogo para a estruturação do treinamento, o caminho com base nessa
análise direciona o treinamento com ênfase somente no componente técnico.
Nessas condições, apresentamos outro exemplo, no qual um jogador é
muitas vezes culpado por não acompanhar o adversário, pois em uma avaliação
superficial, sua posição mais próxima do adversário facilitaria sua abordagem e
isso é avaliado como um “erro” desse jogador, assim, alguns comentários são
disparados, como, “encurta o cara”, “encosta nele” “não acompanhou”.
Entretanto, muitas vezes, esses comentários descaracterizam o cenário do jogo,
não atribuindo relações entre o individual e coletivo, entre a técnica e a
tática e entre a cooperação e oposição.
As ações dos jogadores devem ser analisadas com base nas disposições do
jogo, ou seja, no caso do jogador que passa (ação com bola), deve ser
considerado as linhas de passe disponibilizadas para a sequência da jogada, a
relação numérica com o oponente no centro de jogo, o tipo de defesa
(zona-individual) estabelecida pelo adversário, que pode estar dificultando ou
facilitando a ação e a estratégia ofensiva estabelecida pela equipe, optando
por um jogo mais direto ou indireto. Nessa situação, podemos apontar ainda
outros aspectos influenciadores, “suspensos” na circunstância do jogo, como, o
resultado da partida, a posição na tabela do campeonato, a relação com a
torcida, etc…
Tratando-se do outro exemplo citado (ação sem bola), no qual o jogador é
culpado por não acompanhar o oponente, tecemos outros argumentos que podem
justificar o “erro” do defensor. Nesse caso, deve-se considerar o tipo de
defesa utilizada pela equipe, que pode ter referências zonais, congregando para
ocupação de espaços a partir do movimento da bola ou pode ter características
individuais, com foco no jogador oponente. A análise da ação do jogador deve
considerar tal tomada com base na zona do campo que tem ocorrência, na relação
numérica com o oponente no centro de jogo, no seu posicionamento com relação
setorial e coletiva e também nas características visualizadas no comportamento
ofensivo do adversário.
O jogo de futebol deve ser contemplado entre o caos e o determinismo,
transpondo as análises sobre o jogo do paradigma “empírico-analítico” atrelado
na causalidade como princípio explicativo para o paradigma “fenomenológico-hermenêutico”
situado na interpretação (CUNHA E SILVA, 1999). Para tal, ressalta-se que a
profunda reflexão sobre o fenômeno deve buscar respostas que facilitem a
transição da teoria para prática, ou seja, da avaliação do jogo para a
operacionalização do próximo treinamento.
Dentre essa conjuntura, visualiza-se uma análise mais complexa da
situação, não somente com vistas objetivas, mas com um olhar subjetivo a
situação. Considerando o treino e o jogo no sentido de complementaridade, a
análise do jogo deve transcender a avaliação individual, com ênfase na
eficiência técnica, assim, extrapolando as condições iniciais e congregando
para os desdobramentos técnico-táticos individuais, coletivos, com e sem a
posse de bola, próximos e afastados do centro de jogo.
Portanto, corrobora-se com a ideia que a análise do jogo deve ser
complexa e que avaliação repouse no treinamento com ênfase no componente
tático. Salienta-se, que não atribui-se valor entre o “certo” e o “errado”,
pois se analisarmos outros contextos, o futebol pode surgir como uma ferramenta
para desenvolvermos outras questões mais prioritárias.
No entanto, quando direciona-se para o desenvolvimento de jovens
jogadores com vistas ao alto rendimento, não visualiza-se outro caminho, pois a
busca somente de talentos individuais, atribuindo o papel de heróis e vilões, a
análise das situações do jogo de forma aleatória e a operacionalização com base
somente na componente técnica já nos traz alguns indicativos (1×7)…
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