ANÁLISE DAS SESSÕES DE TREINAMENTO DE FUTEBOL ENTRE CATEGORIAS DE BASE E ESCOLINHAS


ANÁLISE DAS SESSÕES DE TREINAMENTO DE FUTEBOL ENTRE
CATEGORIAS DE BASE E ESCOLINHAS

Rodrigo Vicenzi Casarin, Marcos Teonisto Cella
Orientador: Michel Angillo Saad
Rodrigo Vicenzi Casarin , Marcos Teonisto Cella
Orientador: Michel Angillo Saad


Este estudo teve como objetivo analisar os conteúdos das sessões de treinamentos de futebol da categoria de base de um clube profissional e de uma escolinha na categoria sub 15. O estudo caracterizou-se por uma pesquisa descritivo-exploratória. Utilizou-se a técnica de observação sistemática e direta das sessões de treinamento com o emprego de filmadora e posterior transcrição dos dados em fichas de observação, bem como um questionário como instrumentos de coleta de dados. Participaram deste estudo, praticantes de futebol do gênero masculino em categoria de base e em escolinha pertencentes a categoria sub-15, sendo uma categoria de base de um clube de futebol profissional da cidade de Florianópolis e uma escolinha da fundação municipal de esportes da cidade de Pinhalzinho, ambos de Santa Catarina, bem como os respectivos treinadores. Os resultados obtidos indicam que o tempo total de treinamento da categoria de base (858’) foi maior que o tempo total de treinamento da escolinha (642’). Verificou-se ainda que os treinadores ocupam a maior parte do tempo geral com o jogo propriamente dito. Percebeu-se uma ênfase maior no treinamento físico (180’) por parte da categoria de base, enquanto a escolinha preferenciou o treinamento de combinação dos fundamentos (105’). Os exercícios do complexo de Jogo I, ou seja, situações de jogo, enfocando aspectos técnico-táticos, foram realizados 5 vezes na equipe da categoria de base. Já na equipe da escolinha, foram identificadas 6 situações. Ficou evidente que na categoria de base foram trabalhados com maior ênfase os exercícios de complexo de jogo II (50’). Ao analisarmos os dados obtidos na observação dos treinamentos, é importante considerarmos os objetivos distintos de cada equipe. Ficou clara a maior cobrança por resultados e maior preocupação com o rendimento da categoria de base, num período de jogos decisivos do campeonato estadual, enquanto a escolinha realizava seus treinamentos sem mais perspectivas de competições formais para o ano. Os resultados obtidos revelam aspectos importantes sobre as metodologias do ensino e do treinamento da modalidade de futebol. Procurou- se evidenciar nesse trabalho, uma reflexão crítica, contribuindo para a evolução do ensino-aprendizagem-treinamento do futebol, possibilitando um aprofundamento dos profissionais envolvidos nesse processo. Entendemos que nossas constatações não resolverão todos os problemas que envolvem o treinamento, mas acreditamos que este estudo possa contribuir para a evolução do futebol, bem como servir de referencia para outras investigações.
Palavras-Chave: Futebol. Escolinha. Categoria de Base





1 INTRODUÇÃO

As Modalidades Esportivas Coletivas, desde a sua origem, têm sido praticadas pelas crianças e adolescentes dos mais diferentes povos e nações. Sua evolução é constante, ficando cada vez mais evidente seu caráter competitivo, regido por regras e regulamentos (TEODORESCU, 1984). Por outro lado, os autores da pedagogia do desporto também têm constatado a importância das Modalidades Esportivas Coletivas para a educação de crianças e adolescentes de todos os segmentos da sociedade brasileira, uma vez que sua prática pode promover intervenções quanto a cooperação, convivência, participação, inclusão, entre outros (OLIVEIRA, 2002).
Entre todas as Modalidades Esportivas Coletivas praticadas com bola, o futebol é a mais apaixonante e que exige combinações mais complexas do sistema neuromuscular. Sua história ou pré-história inicia na Ásia, primeiro na China, com o chamado Tsú Chu, umas das primeiras referências ao jogo praticado com as mãos e com os pés, e, depois na era medieval, no Japão, com o nome de Kemari (ROSE JUNIOR, 2006).
Na sociedade contemporânea, o futebol tem se mostrado um fenômeno de grande relevância sociocultural e é, também, amplamente vivenciado pelo brasileiro em seu cotidiano e ressignificado a partir de sua institucionalização e de sua apropriação pelos diversos grupos sociais. (VALENTIN; COELHO, 2005).
Segundo Santos e Scaglia (2007) é de fundamental importância que se tenham definições claras a respeito dos objetivos que se deseja atingir com o esporte, para que sejam evitados equívocos, como a cobrança exacerbada pela  performance.
Assim sendo, existe a necessidade de se estruturar propostas pedagógicas para o ensino do esporte, seja na forma de treinamento ou de lazer.
Portanto nos deparamos com duas situações: uma que visa o rendimento, buscando constantemente novos talentos, disposta nas categorias de base dos clubes de futebol, e outra, com caráter lúdico-educacional, oferecidas pelas secretarias municipais de esporte e demais instâncias administrativas do Estado, popularmente conhecidas como escolinhas de futebol, focando a participação.
Diante do exposto, este estudo pretendeu esclarecer o seguinte problema:
Como são desenvolvidos os conteúdos nas sessões de treinamentos de futebol em escolinha e em categorias de base?
Considerando o objetivo de analisar as sessões de treinamentos de categorias de base e de escolinhas do futebol, propomos os seguintes objetivos específicos:
 Identificar os conteúdos desenvolvidos nas sessões de treinamentos de categorias de base do futebol.
 Identificar os conteúdos desenvolvidos nas sessões de treinamentos de escolinhas de futebol.
 Comparar os conteúdos desenvolvidos nas sessões de treinamento da categoria de base com as sessões de treinamento de escolinhas.
Este estudo partiu do pressuposto de que atendendo aos objetivos deve respondeu as seguintes indagações:
 Quais os conteúdos desenvolvidos nas sessões de treinamentos de categorias de base do futebol?
 Quais os conteúdos desenvolvidos nas sessões de treinamentos de escolinhas de futebol?
 Há diferença entre os conteúdos desenvolvidos nas sessões de treinamento das categorias de base com as sessões de treinamento de escolinhas de futebol.
A partir do objetivo geral desta investigação, este estudo justifica-se pela possibilidade de refletir a cerca do esporte praticado nas categorias de base e nas escolinhas de futebol, ou seja, fora do contexto escolar, e apontar como estas práticas estão sendo realizadas, de forma a contribuir com a formação integral dos seus praticantes.
A inserção de crianças e jovens em modalidades esportivas coletivas, regradas e sistematizadas ou mesmo em outros ambientes, requer a delimitação de objetivos coerentes e o planejamento das atividades que, posteriormente, serão realizadas durante o envolvimento direto com o esporte e com o ambiente que o cerca (COLLET et al., 2007).
O processo de ensino-aprendizagem de qualquer modalidade esportiva coletiva afirma não pode ser feita sem cuidadosa e adequada metodologia, devendo considerar os modernos preceitos da pedagogia, da didática geral e especial, e da psicologia, em razão de que há muito tempo já foi ultrapassada a fase do empirismo, da auto-aprendizagem e da ausência de segura orientação (BRACHT, 1983).
Portanto, o presente estudo surgiu da necessidade de investigar a realidade das categorias de base e das escolinhas, bem como contribuir para a melhoria da qualidade no processo de ensino-aprendizagem-treinamento do futebol.
6 2 REVISÃO LITERATURA
2.1 A ESPECIALIZAÇÃO ESPORTIVA
As idades em que os jovens atletas começam o treinamento específico e a participar de competições de forma regular variam de acordo com as tradições existentes em cada país, assim como a modalidade esportiva considerada (BAXTER-JONES, 1995; DE ROSE JUNIOR, 1995; MARTENS, 1988; PAES, 1992; ROWLAND, 1996; ZAKHAROV, 1992, apud, ARENA, 2000).
A fase da especialização esportiva corresponde à época do treinamento em que as pré-disposições de especificidade esportiva começam a ser ressaltadas e compreende os dois ou três primeiros anos da criança ou adolescente na escola esportiva; de forma específica, coincide com a as fases pré-pubertária e pubertária (GOMES e MACHADO, 1999).
Para Barbanti (2005), a especialização representa o elemento principal e o mais importante para se ter uma carreira esportiva bem sucedida. Segundo o autor, ela produz alterações relacionadas a especificidade do esporte praticado. Segundo Greco e Benda (1998), é uma fase contínua na evolução do jovem adolescente, iniciando-se aos 15 anos de idade e percorrendo até a fase adulta. Na concepção de Shimitd (2001), o trabalho esportivo especializado deve acontecer após os 14 anos de idade, em que os movimentos relacionados às habilidades esportivas passam do estágio específico geral para o estágio especializado.
Assim, essa fase deve ocorrer após o pico de velocidade crescimento da estatura, tomando por base a idade biológica da criança. O pico de velocidade da estatura tem, para os meninos, a idade aproximada de 14 a 15 anos e para as meninas os 13 a 14 anos de idade. (ASTRAND, 1997). A quantidade de horas de treinamento anual deve ser entre 600h e 1000h (GOMES, 2002).
De acordo com Verjoshanski (1990), esta etapa de especialização, localizada um passo mais acima da pirâmide, continuará sua progressão em especificidade e deste modo, tanto a preparação tática, técnica, física e psicológica, serão levados a cabo de um modo unilateral para o esporte praticado. Esta fase normalmente desenvolve-se a partir da puberdade, quando o organismo adolescente está apto para receber trabalhos mais detalhados e complexos. Em função da natureza das Modalidades Esportivas Coletivas, Oliveira (2002) confirma que as tarefas de 7 aperfeiçoamento tático-técnico devem acontecer de forma mais detalhada, através de estruturas jogadas e com situações específicas de 1x1 2x2 3x3 5x5 , fortalecendo, também, os aspectos fiscos e psíquicos dos atletas.
Além disso, a questão da especialização esportiva é complexa porque envolve além das dimensões tradicionais do jogo, aspectos sócios culturais.
Incluídos neste contexto estão representantes de vários segmentos da sociedade, como dirigentes, técnicos, professores e pais, os quais, em algumas situações de treinamento, esperam “resultados imediatistas”, através de uma boa atuação e resultados esportivos de seus jovens atletas em jogos e competições (ARENA, 2000).
Assim, a fase de especialização deve ser entendida como um meio para buscar a excelência esportiva, e não como um fim. Portanto, deverá ocorrer com base em uma estrutura sólida, que leva em consideração as características da modalidade, o desenvolvimento individual dos praticantes, o aumento regular das tarefas e o verdadeiro objetivo do treinamento. (WEINECK, 1991); 
O ENSINO-APRENDIZAGEM-TREINAMENTO DAS MODALIDADES ESPORTIVAS COLETIVAS
De modo geral, as Modalidades Esportivas Coletivas, conteúdos de disciplinas curriculares ou práticas competitivas, podem ser abordados de diferentes maneiras (BAYER,1986).
Nesse contexto, podem-se observar duas correntes pedagógicas de ensino das modalidades esportivas coletivas: uma utiliza os métodos tradicionais ou didáticos, decompondo os elementos (fragmentação), na qual a memorização e a repetição permitem moldar a criança e o adolescente ao modelo adulto. A outra corrente destaca os métodos ativos, que levam em conta os interesses dos jovens e que, a partir de situações vivenciadas, iniciativa, imaginação e reflexão possam favorecer a aquisição de um saber adaptado às situações causadas pela imprevisibilidade (BAYER,1986). Conforme o mesmo autor a corrente dos métodos ativos, chamada de pedagogia das situações, deve promover aos indivíduos a cooperação com seus companheiros, a integração ao coletivo, opondo-se aos adversários, mostrando, ao aprendiz, as possibilidades de percepção das “situações 8 de jogo", interferindo na tomada de decisão, elaborando uma "solução mental", buscando resolver os problemas que surgem com respostas motoras mais rápidas, principalmente nas interceptações e antecipações, frente às atividade dos adversários.
Na concepção de Garganta (1998), também há duas abordagens pedagógicas de ensino: a primeira é mecanicista, centrada na técnica, na qual o jogo é decomposto em elementos técnicos: passe, drible, recepção, arremesso. Os gestos são aprimorados, especializados, e suas consequências mostram o jogo pouco criativo, com comportamentos estereotipados e problemas na compreensão do jogo, com leituras deficientes do ponto de vista tático. As situações problema ocasionadas pelas reais situações de jogo, são pobres e podem provocar desvios na evolução do aluno/atleta.
A segunda abordagem de Garganta (1998) é a das combinações de jogo contidas na tática por intermédio dos jogos condicionados, voltados para o todo, nos quais as relações das partes são fundamentais para a compreensão do jogo, facilitando o processo de aprendizagem da técnica. O jogo é decomposto em unidades funcionais sistemáticas de complexidade crescente, nas quais os princípios do jogo regulam a aprendizagem. As ações técnicas são desenvolvidas com base nas ações táticas, de forma orientada e provocada.
Para o ensino-aprendizagem-treinamento, Greco e Benda (1998) adotam a pedagogia das intenções, na qual as técnicas são trabalhadas em situações representadas por exercícios nos seus parâmetros particulares de execução e aplicação. Os autores utilizam também o método situacional, com situações de jogo de 2x2, 3x3, servindo para o aperfeiçoamento físico e técnico-tático, as quais contribuem para comportamentos táticos posteriores.
Seguindo essa linha de raciocínio, Paes (2001) arrola experiências práticas em situações de jogo, em 1x1-2x2-3x3, e ainda o "jogo possível" como uma possibilidade de ensinar as modalidades esportivas coletivas, pois o mesmo pode propiciar aos alunos o conhecimento e a aprendizagem dos fundamentos básicos das modalidades coletivas, considerando seus valores relativos e absolutos, e também aprenderem de acordo com suas possibilidades materiais (locais de aprendizagem). Almeja-se, nesse procedimento, a motivação por parte dos alunos ou praticantes, para que os mesmos tomem gosto e possam usufruir a prática 9 desportiva, como beneficio para melhor qualidade de vida, caso seus talentos pessoais não despertem o sucesso atlético.
Outra proposta de ensino é apresentada por Mertens e Musch (1990, apud, OLIVEIRA, 2002), tomando como referência a idéia do jogo, no qual as situações de exercícios da técnica aparecem claramente nas situações táticas, simplificando o jogo formal para jogos reduzidos e relacionando situações de jogo com o jogo propriamente dito. Essa forma de jogo deve preservar a autenticidade e a autonomia dos praticantes, respeitando-se o jogo formal. Sendo assim, deve-se manter as estruturas específicas de cada modalidade; a finalização, a criação de oportunidades para o drible, passe, e lançamentos nas ações ofensivas. O posicionamento defensivo é generalizado e procura-se dificultar a organização ofensiva dos adversários, principalmente nas interceptações dos passes, estabelecendo uma dinâmica entre as fases de defesa-transição-ataque.
Outra corrente é o modelo baseado na compreensão “Teaching Games for Understanding” (TGFU), segundo Placek (apud, COSTA; NASCIMENTO, 2004), constitui-se num modelo de integração, que favorece a compreensão dos esportes e facilita a transferência da aprendizagem (THORPE, BUNKER; ALMOND, 1984 apud GRAÇA; MESQUITA, 2002), enunciaram 4 princípios pedagógicos que norteiam a estruturação pedagógica desse modelo:
1) critério na escolha dos jogos para proporcionar variabilidade nas experiências vividas pelos alunos, facilitando a compreensão dos elementos táticos do jogo;
2) a modificação por representação, que modifica a complexidade do jogo formal, tornando-o mais simples, através de alterações no espaço, tempo e materiais utilizados;
3) a modificação por exagero, através do estabelecimento de regras de funcionamento do jogo que considerem situações específicas de determinados aspectos do jogo, colocando os alunos em situação de superioridade ou inferioridade numérica;
4) a complexidade tática, que deve ser evidenciada progressivamente.
Observando as premissas acima, pode-se constatar que as novas metodologias baseiam-se na verdadeira essência do desporto futebol, o jogo. Em entrevista concedida para Mello (2006), Scaglia afirma que utilizado-se a metodologia pautada nos jogos, o ponto de partida para a transição do gesto eficaz para o gesto cada vez mais eficiente se dá por meio da crescente tomada de consciência das ações. Assim o foco das intervenções pedagógicas do professor deve ser o de facilitar a compreensão das lógicas dos jogos (pequenos, médios e grandes), ou seja, “facilitar” nunca significa dar a resposta pronta para os alunos, mas sim ajudá-los a construir conhecimentos (SCAGLIA, 2006)
Nesse entendimento, fica explícito não ocorreram evidências de que o ensino isolado da técnica ou de movimentos físicos descontextualizados sejam significativos quanto ao ganho de aprendizagem. A aprendizagem não pode ser associada somente às capacidades técnicas ou físicas. Dessa forma, outros fatores devem ser considerados: como as capacidades cognitivo-perceptivas, a motivação para a aprendizagem, a relação professor-aluno e a complexidade das tarefas (RINK et al. 1996).
Desta forma é necessário que o professor tenha conhecimento sobre as novas tendências de ensino dos esportes, para que possa escolher e refletir acerca das abordagens investigadas, utilizando-se dos procedimentos de modo a orientar a sua prática pedagógica (COSTA; NASCIMENTO, 2004).
2.3 CATEGORIAS DE BASE E ESCOLINHAS NO FUTEBOL
As expectativas de tendências mundiais, baseadas na tendência da globalização, voltadas para a perspectiva da totalidade do indivíduo dentro da prática esportiva, clamando para si um campo específico de estudos científicos, centrado na Ciência do Esporte. Daí surge paradigmas distintos do entendimento do fenômeno esportivo, sendo o primeiro focado na idéia de esporte rendimento e o segundo dirigido às perspectivas de participação (TUBINO, 1992).
Transferindo essa realidade para o futebol, o conceito de esporte rendimento fica evidenciado nas categorias de base, cujo propósito é formar ou revelar o atleta para o mundo futebolístico, visando resultados competitivos e lucro com sua possível venda.
Nas categorias de base dos clubes de futebol, entre vários objetivos destacam-se: permitir a possibilidade de correção de ‘vícios’ do jovem jogador, incutir no jovem a predisposição ao trabalho físico e adequar o jogador às normas do clube (WILPERT, 2005). Nesse sentido, o processo de treinamento é construído pela busca extenuante do aperfeiçoamento de movimentos e técnicas.
Atualmente as categorias de base, principalmente em nosso país, preocupam-se em formar rapidamente o atleta, para atender às necessidades do mercado e do mundo profissional. Muitos clubes não levam em consideração o processo de formação gradual, ou seja, há uma precocidade e uma forte cobrança em cima dos atletas pelo rendimento máximo nos treinamentos e nas competições disputadas. Azevedo (2008) dispõem algumas particularidades das categorias de base:
- Campos de treinamento em quantidade com excelente qualidade.
- Materiais esportivos adequados para a prática esportiva.
- Vestiários equipados usados antes e depois da prática esportiva.
- Sala de musculação e reuniões.
- Equipe multidisciplinar (treinador, preparador físico, psicólogo, massagista, médico).
- Busca de retorno financeiro.
- Competições durante toda a temporada.
- Metodologia de treinamento bem definida, geralmente tradicional, que visa uma a aquisição dos aspectos físico, técnicos e táticos por partes, levando os atletas ao rendimento total.
O esporte de alto rendimento ou esporte performance caracteriza-se por trazer consigo os propósitos de novos êxitos esportivos, a vitória sobre os adversários nos mesmos códigos, e é exercido sob regras pré-estabelecidas pelos organismos internacionais de cada modalidade. Define-se desta maneira por uma clara fundamentação em regras estritas determinadas por cada instituição que exerce o poder sobre sua modalidade (TUBINO, 2001).
Ainda para Tubino (2001), há uma tendência natural que seja exercida pelos chamados talentos esportivos, o que o impede de ser considerado uma manifestação comprometida com valores democráticos. Podemos entender que a busca pelo desempenho, pelo brilhantismo nos esportes, é fundamentalmente uma busca pelo reconhecimento do talento individual, pela idéia de diferenciação numa sociedade extremamente hierarquizada que pouco permite e pouco promove o reconhecimento para suas classes menos favorecidas se não for através de meios esportivos ou culturais, como é o caso da sociedade brasileira.
Não é difícil escutar falas entre os pais ou mesmo entre os jovens de que eles estão tentando adentrar no meio esportivo para “ser alguém”, o que por definição remete a idéia de que se não for por esta via o jovem continuará a ser um “ninguém”.
Nessa idéia, a competição possui aspectos positivos e negativos, dependendo da forma como essa é utilizada. Ou seja, a competição pode auxiliar na formação integral do atleta, nos aspectos cognitivo, social, físico e afetivo e nas atitudes saudáveis e de autovalorização, se utilizada com objetivo de emancipação, integração e lazer. Porém, se a competição for priorizada para se destacar as vitórias, autopromoção e sobrepujança ao adversário, se estará negando uma convivência sadia, onde o ser humano precisa estar em primeiro lugar (SHIGUNOV; PEREIRA, 1993).
Betti (1991) entende que o envolvimento em atividades competitivas, desperta grande interesse e motivação, possibilitando desta forma uma maior afirmação social, sendo que o seu lado negativo se reflete no caso de possuir toda uma conotação burguesa e realçando o sistema capitalista industrial (princípio de sobrepujança), podendo ocasionar traumas psicoafetivo-sociais.
Em contraposição, temos o esporte participação, pertencente as escolinhas de prefeituras municipais e projetos sociais, tendo com tema central a formação diferenciada do atleta, visando principalmente os aspectos sociais e educacionais.
Conforme Scaglia (1996) parece ser função básica da escolinha proporcionar um processo de ensino aprendizagem, que venha a possibilitar um aprendizado da modalidade em questão, mas que este aprendizado não tenha um fim em si mesmo, ou seja, este processo deve estar envolvido em todo um contexto vivido pelo aluno.
Para o mesmo autor, uma escolinha envolta por uma concepção de educação permanente, que, através da aplicação de conhecimentos de pedagogia de esportes, terá a finalidade e a responsabilidade de possibilitar um desenvolvimento ao aluno, onde o esporte não se restringe a um “fazer” mecânico, visando um rendimento exterior ao indivíduo, mas torna-se um compreender, um incorporar, um aprender atitudes, habilidades e conhecimentos, que o levem a dominar os valores e padrões da cultura esportiva o deve estar envolvido em todo um contexto vivido pelo aluno.
Azevêdo (2008) apresenta algumas características pertencentes às escolinhas de futebol:
- Não existe retorno financeiro.
- Estrutura física é bem menor e com menos qualidade.
- Apenas o professor está presente na comissão técnica.
- Materiais esportivos de menor qualidade.
- Competições disputadas esporadicamente.
- Há uma pedagogia de formação do cidadão, através de atividades diversificadas, que desenvolvam a totalidade.
A prática pedagógica em escolinhas serve como um meio de retirar as crianças da “rua”, do seu “pedaço”, dos lugares onde elas desenvolvem suas redes
de sociabilidade, onde criam uma relação homem-espaço e onde estabelecem suas identidades. Tal representação se dá sob a perspectiva de que, num ambiente onde ocorre o “mau funcionamento” da sociedade, as crianças estariam se apropriando de valores menos humano e compartilhando princípios desviantes, no intuito de trazê­las para o campo esportivo, onde elas se aproximariam de um outro estilo de vida, mais civilizado, humano e normativo (SCAGLIA, 1996).
O esporte participação é “o esporte referenciado com o principio do prazer lúdico, e que tem como finalidade o bem-estar social de seus participantes”, é de se notar que, nesta visão, o esporte perderia ao seu viés utilitário, viés este, considerado de suma importância pelo esporte de alto rendimento, na visão do alto rendimento esportivo deve-se sempre realçar os ganhos e destacar os indivíduos que o praticam tornando-os diferenciados em função de sua técnica (TUBINO, 2001).
Nesse entendimento, torna-se claro que o esporte participação cria a possibilidade de uma inserção diferenciada do esporte na sociedade, contudo está dimensão não possui, no imaginário social brasileiro, a possibilidade de ascensão social virtualmente criada pelo esporte de alto rendimento. (TUBINO, 2001)
3 METODOLOGIA
Neste capítulo são descritos os procedimentos metodológicos utilizados no desenrolar do estudo. Em um primeiro momento será caracterizado o estudo em questão, para em seguida descrever os sujeitos da pesquisa. Na seqüência, serão abordados os instrumentos utilizados para a coleta de dados, bem como um breve comentário da realização da coleta de dados e das estratégias adotadas e análise dos resultados, e finalizando uma síntese de como foi realizada a análise da coleta de dados.
3.1 CARACTERISTICAS DA PESQUISA
Este estudo e se caracteriza por uma pesquisa descritiva-exploratória. Para Trevinhos (1997), o estudo descritivo descreve com exatidão os fatos e fenômenos de determinada realidade. Para Nardi e Santos (2003), a pesquisa exploratória busca informar ao pesquisador a real importância do problema, em que estágio se encontra as informações sobre o assunto.
3.2 SUJEITOS DA PESQUISA
Participaram deste estudo, praticantes de futebol do sexo masculino em
Categoria de base e em Escolinha pertencentes a categoria sub-15, sendo uma
Categoria de Base de um clube de futebol profissional da cidade de Florianópolis e uma Escolinha da Fundação Municipal de Esportes da cidade de Pinhalzinho, ambos de Santa Catarina, bem como os respectivos treinadores.
3.3 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS
Como instrumento de coleta de dados utilizou-se:
a) Um questionário (APENDICE A), com questões abertas e fechadas, a ser aplicado aos treinadores acerca das concepções e conhecimentos utilizados no processo de ensino-aprendizagem-treinamento do futebol. O questionário buscará obter informações sobre a biografia do professor/treinador, as fontes de conhecimentos que subsidiam as sessões de treinamento, a abordagem didático- pedagógica desenvolvida e o planejamento referente ao processo ensino­ aprendizagem-treinamento utilizado nas sessões.
b) A observação sistemática e direta das sessões de treinamento com o emprego de filmadora e posterior transcrição dos dados em fichas de observação (APENDICE B). O esquema adotado foi adaptado e similar aos procedimentos utilizados no estudo de Saad (2002) para contemplar a análise pormenorizada dos exercícios realizados. A análise do processo de ensino-aprendizagem-treinamento (APENDICE C) foi realizada basicamente em três esferas gerais: complexidade estrutural das atividades (delimitação espacial, modos de participação e duração das atividades), complexidade estrutural das tarefas (função, classificação e critério de êxito das tarefas) e complexidade do campo ecológico (condutas do treinador e atletas).
3.4 COLETA DE DADOS
A coleta de dados foi realizada pelos próprios pesquisadores, durante um período de três meses (setembro, outubro e novembro). Foram observadas 8 (oito) sessões de treinamento de uma equipe de categoria de base e 8 (oito) sessões de treinamento de uma escolinha.
Antes de iniciar a coleta de dados, foi solicitada autorização junto aos professores para a realização da investigação (APÊNDICE D).
3.5 ANALISE DOS DADOS
Os dados obtidos através das filmagens foram transcritos em fichas sistemáticas de observação e posteriormente agrupados para facilitar a interpretação dos mesmos. A discussão dos resultados foi baseada inicialmente na análise das respostas obtidas por meio do questionário aplicado e da observação direta das sessões de treinamento durante o período de coleta de dados.
A análise descritiva dos resultados foi realizada através do agrupamento dos dados obtidos para determinação frequência e frequência percentual.
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DE RESULTADOS
Para a análise dos dados utilizou-se da frequência relativa e a frequência absoluta em cada aspecto apresentado.
No que diz respeito às atividades mais frequentes nas sessões de treinamento, foi possível identificar e cadastrar 132 atividades, nas 16 sessões de treinamento observadas. Sendo 74 atividades realizadas na categoria de base e 58 atividades realizadas nas sessões observadas na escolinha.
A forma como cada treinador distribui o tempo em segmentos do treino durante as sessões, permitiu cadastrar 10 tipos distintos de segmentos dos treinos (atividades), nas quais se observa: conversa com o treinador, aquecimento sem bola, aquecimento com bola, treinamento técnico, treinamento técnico-tático, treinamento tático, treinamento físico, jogo propriamente dito, intervalo de descanso e relaxamento final.
A categoria de base observada foi de um clube de futebol profissional que disputa o campeonato brasileiro da série B da cidade de Florianópolis (SC). A categoria sub-15 conta com 32 atletas em seu grupo, um treinador, um preparador físico, um massagista, um mordomo e um auxiliar de psicologia. Além de, contar com o departamento médico do clube, nutricionista, fisioterapeuta e assessoria de imprensa.
O treinador é formado em Educação Física desde 1991 e pós-graduado em
Gestão do Desporto e faz parte do Sindicato dos Treinadores Profissionais de
Futebol do Estado de São Paulo.
Sua experiência esportiva inclui passagens no futsal e no futebol trabalhou em clubes com o Vitória, Grêmio, Avaí, Figueirense e Flamengo. Possui experiência internacional na Hungria e Eslováquia, além de estágio no ano de 2001 na Espanha, nos clubes Espanyol e Barcelona.
O planejamento dos treinamentos e jogos da equipe infantil da categoria de base é realizado com base na competição alvo, ou seja, no campeonato estadual da categoria.
Primeiramente, o treinador realizou um levantamento contendo objetivo, suprimentos e materiais necessários aos treinamentos a serem adquiridos, recursos humanos, comissão técnica e funções, além de locais e tipos de treinamento.
Os treinamentos iniciaram 4 meses antes da competição. Foram feitas programações mensais, semanais e por sessão de treinamento. A avaliação dos atletas é feita de forma individual, considerando a frequência, assiduidade, interesse, aproveitamento físico, técnico, tático e escolar além de disciplina. Outras observações pertinentes sobre os atletas podem ser anotadas em fichas.
Em relação a escolinha de futebol, foi observada uma Escolinha da Fundação
Municipal de Esportes da cidade de Pinhalzinho. A escolinha tem 25 alunos e um treinador. O treinador é formado em Educação Física desde 2006, com Pós Graduação em Treinamento Esportivo. Sua experiência esportiva inclui passagens no futsal e no futebol como atleta, atuando como atleta em clubes como E. C. Pelotas (Pelotas), G. A.
Farroupilha (Pelotas), E. C. São Paulo (Rio Grande) e E.C. Taquariense (Taquari).
Como treinador na escolinha atua a aproximadamente 4 anos junto a Fundação
Municipal de Pinhalzinho.
O planejamento dos treinamentos e jogos da equipe sub-15 da escolinha de futebol é realizado de acordo com as competições que serão disputadas. Por se tratar de uma escolinha com um cunho social, o treinador traça estratégias para selecionar os atletas que participarão das competições.
A avaliação dos atletas é realizada por procedimentos pré-estabelecidos (assiduidade, comportamento e cooperação) e também através do desempenho em treinamentos e jogos.
A seguir, serão apresentadas as análises das sessões de treinamento realizadas na categoria de base e na escolinha, sendo observadas 8 sessões de treinamento na categoria de base e 8 na escolinha, num total de 16 sessões de treinamento.
Quadro 1 – Tempo em minutos dos segmentos das sessões de treinamento da categoria de base
Segmentos dos Treinos Tempo em Minutos Frequência Percentual (%)
Conversa com o treinador 55’  6,41%
Aquecimento sem bola  96’  11,18%
Aquecimento com bola  22’  2,56%
Treinamento Técnico  65’  7,57%
Treinamento Técnico-tático  87’  10,13%
Treinamento Tático  50’  5,82%
Treinamento Físico  180’  20,97%
Jogo propriamente dito  200’  23,31%
Intervalo de repouso/descanso  72’  8,39%
Relaxamento Final  31’  3,61%
Total  858’  100%
Quadro 2 - Tempo em minutos dos segmentos das sessões de treinamento  da escolinha
Segmentos dos Treinos  Tempo em Minutos
Freqüência Percentual (%)
Conversa com o treinador  42’  6,54%
Aquecimento sem bola 38’ 5,91%
Aquecimento com bola 70’ 10,90%
Treinamento Técnico 110’ 17,13%
Treinamento Técnico-tático 89’ 13,86%
Treinamento Tático 20’ 3,11%
Treinamento Físico 25’ 3,89%
Jogo propriamente dito 170’ 26,47%
Intervalo de repouso/descanso 40’ 6,23%
Relaxamento Final 38’ 5,91% Total 642’ 100%
Em relação ao parâmetro tempo (em minutos) foram observadas diferenças entre a categoria de base e a escolinha. O tempo total de treinamento da categoria de base foi de 858 minutos e o tempo da escolinha foi de 642 minutos.
Em relação aos segmentos do treino: aquecimento sem bola e aquecimento com bola, foi verificado que a categoria de base utilizou com maior frequência o aquecimento sem bola (96’) e a escolinha o aquecimento com bola (70’).
Quanto ao segmento treinamento técnico, observam-se diferenças entre as equipes. Na categoria de base foi direcionado 7,57%(65’), enquanto que a escolinha destinou 17,13%(110’) do tempo total das sessões de treinamento. Outra diferenciação foi no aspecto físico. A categoria de base utilizou 20,97%(180’) e a escolinha 3,89%(25’).
Conforme pode ser observado no quadro 1 e 2, a atividade de jogo propriamente dito é, entre os segmentos do treino, a que mais tempo ocupa no geral na categoria de base e na escolinha.
Quadro 3 – Tempo em minutos das condições das tarefas das sessões de treinamento da categoria de base.
Condições da tarefa
Tempo em
Minutos
Frequência
Percentual (%)
Fundamentos Individuais 42’ 7,84%
Combinação de Fundamentos 34’ 6,34%
Complexo do Jogo I (técnico-tático) 30’ 5,59%
Complexo do Jogo II (tático) 50’ 9,32%
Jogo 200’ 37,31%
Treinamento Físico 180’ 33,58%
Total 536’ 100%
Quadro 4 – Tempo em minutos das condições das tarefas das sessões de treinamento da escolinha.
Condições da tarefa Tempo em Minutos Frequência Percentual (%)
Fundamentos Individuais 30’ 7,43%
Combinação de Fundamentos 105’ 25,99%
Complexo do Jogo I (técnico­ tático)
79’  19,55%
Complexo do Jogo II (tático) 20’ 4,95%
Jogo 145’ 35,89%
Treinamento Físico 25’ 6,19%
Total 404’ 100%
Nos quadros 3 e 4 observa-se que o segmento fundamentos individuais na categoria de base foi destinado (7,84%)(42’) e, na a escolinha (7,43%)(30’) do tempo, mostrando a pouca utilização do trabalho analítico de fixação técnica.
Observa-se também na categoria de base, a pouca utilização dos quistos combinação de fundamentos (6,34%)(34’), complexo do jogo I (técnico-tático) (5,59%)(30’), contrastando com a escolinha, que teve nos segmentos, combinação de fundamentos (25,99%)(105’) e complexo do jogo I (técnico-tático) (19,55%)(79’).
Quanto ao complexo de jogo II, a categoria de base obteve 9,32%(50’), enquanto a categoria de base utilizou (4,95%)(20’).
Em relação ao treinamento físico, a categoria de base utilizou-se de (33, 58%)
(180’) do tempo, dando preferência para valência força, desenvolvida na academia.
Nessa situação evidenciada na categoria de base, Oliveira et al. (2006), trazem algumas considerações onde Mourinho afirma que num exercício técnico- tático em que existam ao mesmo tempo muitos saltos, muitas quedas, muitas frenagens e muitas mudanças de direção, é mais importante do que um outro onde se trabalhe a força de forma isolada ou descontextualizada. Já a escolinha teve (6,19%)(25’), realizando uma sessão de treinamento físico.
Quadro 5 - Estruturação dos segmentos das sessões de treinamento da categoria de base.
Estruturação das sequências de exercícios Frequência
Frequência Percentual
Fundamento individual + combinação dos fundamentos 1
12,5%
Fundamento individual + combinação dos fundamentos+ jogo 1
12,25%
Combinação dos fundamentos + complexo de jogo I 1 12,5%
Combinação dos fundam. + complexo de jogo II  1 12,5%
Treinamento Físico + complexo de jogo I 1 12,25%
Treinamento Físico + complexo de jogo II  1 12,25%
Treinamento Físico + Jogo 1 12,5%
Treinamento Físico 1 12,25
Total 8 100%
Quadro 6 - Estruturação dos segmentos das sessões de treino da escolinha.
Estruturação das sequências de exercícios
Frequência
Frequência
Percentual
Fundamento individual + combinação dos fundamentos 1
12,5%
Fundamento individual + combinação dos fundamentos+ jogo 1
12,5%,
Combinação dos fundamentos + complexo de jogo I 2 25%
Combinação dos fundam. + complexo de jogo II  1 12,5%
Treinamento Fisco + Jogo 1 12,5%
Jogo 2 25%
Total 8 100%
Observa-se no quadro 5 e 6 que a estruturação das atividades, compactua com a forma com que os segmentos dos treinos (quadros 1 e 2) e as condições das tarefas (quadros 3 e 4) foram organizados.
Assim, a seqüência dos treinos da categoria de base se estruturou em todos os segmentos de maneira uniforme, tendo uma porcentagem de (12,25%). Na
Escolinha as tarefas combinação dos fundamentos + complexo de jogo I (25%) e jogo (25%) foram às progressões mais frequentes.
Quadro 7 - Frequência e frequência percentual dos exercícios de Fundamentos
Individuais realizados nas sessões da categoria de base.
Fundamentos Individuais Frequência
Frequência
Percentual
Passe 2 33,33%
Controle/ Domínio 1 16,66%
Cabeceio 1 16,66%
Finalização 2 33,33%
Total 6 100%
Quadro 8 - Frequência e frequência percentual dos exercícios de Fundamentos
Individuais realizados nas sessões da escolinha.
Fundamentos Individuais Frequência
Frequência
Percentual
Passe 1 14,28%
Controle/ Domínio 2 28,57%
Cabeceio 1 14,28%
Finalização 3 42,85%
Total 7 100
Na categoria de base, conforme o quadro 7, os fundamentos individuais mais realizados nas sessões de treinamento, são os exercícios de passe e finalização, todos com (33,33%). Já na escolinha, o quadro 8 apresenta o aspecto técnico de finalização (42,85%) sendo trabalhado com maio ênfase.
De acordo com Gimenez (2008), como observado nos quadros acima, onde o trabalho realizado eram situações isoladas do contexto do jogo, deve-se reduzir as propostas de trabalho que possuem um caráter mais analítico ou demasiadamente técnico, ou ainda, que não se desenrole na ausência de um contexto que é comum à grande maioria das modalidades esportivas de invasão – a necessidade de progredir no terreno com a bola e a equipa para atingir um alvo.
Quadro 9 - Frequência e frequência percentual dos exercícios de combinações de Fundamentos realizados nas sessões da categoria de base.
Combinações de Fundamentos Frequência
Frequência
Percentual
Condução- passe e chute 2 20%
Condução e chute 1 10%
Condução-drible e chute 1 10%
Condução-passe e recepção 1 10%
Passe e recepção 2 20%
Recepção-condução e chute 1 10%
Recepção-passe e chute 2 20%
Total 10 100%
Quadro 10 - Frequência e frequência percentual dos exercícios de combinações de
Fundamentos realizados nas sessões da escolinha.
Combinações de Fundamentos Frequência
Frequência
Percentual
Recepção e chute 1 8,33%
Condução- passe e chute 1 8,33%
Passe-recepção e chute 2 16,67%
Condução-drible e chute 2 16,67%
Condução-passe e recepção 1 8,33%
Passe e recepção 1 8,33%
Recepção-condução e chute 1 8,33%
Recepção-passe e chute 1 8,33%
Outras Combinações 2 16,67%
Total 12 100%
No geral, os exercícios de combinação de fundamentos mais realizados nas
Sessões de treinamento da categoria de base enfatizam os aspectos condução ­ passe e chute (20%), passe e recepção (20%) e recepção-passe e chute (20%)
Os elementos passe-recepção e chute (16,67%), condução-drible e chute
(16,67%) e outras combinações (16,67%) constituem os exercícios de combinação de fundamentos mais realizados pela escolinha.
Quadro 11 - Frequência e frequência percentual dos exercícios de Complexo de Jogo I realizados na categoria de base.
Atividades de Complexo de Jogo-a Frequência
Frequência
Percentual
Situação de 3x2 1 20%
Situação de 5 x4 1 20%
Situação de 6 x5 1 20%
Situação de 7 x7 1 20%
Situação de 3+Goleirox2 1 20%
Total 5 100%
Quadro 12 - Frequência e frequência percentual dos exercícios de Complexo de Jogo I realizados na escolinha.
Atividades de Complexo de Jogo-a Frequência
Frequência
Percentual
Situação de 1 x1 1 16,67%
Situação de 2x1 1 16,67%
Situação de 3x2 1 16,67%
Situação de 5 x4 1 16,67%
Situação de 7 x7 1 16,67%
Situação de 3+Goleirox2 1 16,67%
Total 6 100%
Nos exercícios de complexo de Jogo I, ou seja, situações de jogo enfocando aspectos técnico-táticos, na categoria de base foram possíveis identificar 5 situações distintas. Já na escolinha, foram identificadas 6 situações.
Observa-se nos quadros 11 e 12 que nenhuma atividade de complexo do jogo foi trabalhada mais que uma vez, mostrando não haver preocupação dos treinadores em fixar ou automatizar as situações de redução de complexidade tático-técnicas que envolvem uma partida de futebol.
Quadro 13 - Frequência e frequência percentual dos exercícios de Complexo de Jogo II realizados na categoria de base.
CATEGORIA DE BASE SUB 15
Exercícios de Complexo de Jogo II Frequência
Frequência
Percentual
Movimentação de Saída da
Defesa para o Ataque
2  18,18%
Movimentação de Lateral 1 9,09%
Movimentação de Canto 2 18,18%
Movimentação de Falta 3 27,27%
Posicionamento de
Marcação de Canto
3  27,27%
Total 11 100%
Quadro 14 - Frequência e frequência percentual dos exercícios de Complexo de Jogo II realizados na escolinha.
ESCOLINHA SUB 15
Exercícios de Complexo de Jogo II Frequência
Frequência
Percentual
Movimentação de Saída da
Defesa para o Ataque
2  66,67%
Movimentação de Falta 1 33,33%
Total 3 100%
Conforme os resultados encontrados, fica evidente que a categoria de base trabalhou com maior ênfase os exercícios de complexo de jogo II, destacando-se as movimentações de falta (27,27%) e posicionamento de marcação de canto (27,27%), sendo que algumas dessas situações ocorreram sem oposição, ou seja, fora do contexto do jogo. Já na escolinha enfatizou-se a movimentação de saída da defesa para o ataque com (66,67%).
Quadro 15 - Frequência e frequência percentual da classificação das atividades conforme o modo de participação dos jogadores na categoria de base.
Participação Categoria dos
Jogadores
Frequência
Frequência
Percentual
Individual 1 20%
Duplas 2 40%
Trios 2 40%
Total 5 100%
Quadro 16 - Frequência e frequência percentual da classificação das atividades conforme o modo de participação dos jogadores na escolinha.
Participação Categoria dos
Jogadores
Frequência
Frequência
Percentual
Individual 1 14,29%
Duplas 3 42,86%
Trios 3 42,86%
Total 7 100%
Em relação à forma de participação dos jogadores nos treinamentos, os quadros 15 e 16 demonstram que ambas as equipes deram preferências para atividades realizadas em duplas e trios.
Quadro 17 - Frequência e frequência percentual da conduta assumida pelo treinador
Na categoria de base.
Conduta dos Treinadores Frequência
Frequência
Percentual
Centrado no treinador 145 47,54%
Iniciado pelo treinador 8 2,62%
Retroalimentação do Treinador 152 49,83%
Total 305
Quadro 18 - Frequência e frequência percentual da conduta assumida pelo treinador na escolinha.
Conduta dos Treinadores Frequência
Frequência
Percentual
Centrado no treinador 111 41,88%
Iniciado pelo treinador 6 2,26%
Retroalimentação do Treinador 148 55,84%
Total 265 100
Quanto a conduta assumida pelos treinadores, os resultados da categoria de base demonstram equilíbrio entre as condutas centrado no treinador (47,54%) e retroalimentação do treinador (49,83%). Na escolinha foi evidenciada a conduta de retroalimentação do treinador (55,84%).
Quadro 19 - Frequência e frequência da estruturação das sequências de exercícios nas sessões de treinamento considerando a função da tarefa na categoria de base.
Função da Tarefa Frequência
Frequência
Percentual
Fixação-Competição 2 25%
Aplicação-Competição 2 25%
Competição 4 50%
Total 8 100%
Quadro 20 - Frequência e frequência da estruturação das sequências de exercícios nas sessões de treinamento considerando a função da tarefa na escolinha.
Função da Tarefa Frequência
Frequência
Percentual
Fixação-Competição 2 25%
Fixação-Aplicação 3 37,5%
Aplicação-Competição 1 12,5%
Competição 1 12,5%
Aplicação-Competição 1 12,5%
Total 8 100%
No que diz respeito a estruturação das progressões de exercícios, observa-se nos quadros 19 e 20, que não há similaridade entre a categoria de base e a escolinha. Enquanto que a categoria de base da preferência para os exercícios de competição (50%), a escolinha enfatiza os exercícios de fixação-aplicação (37,5%).
27
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do objetivo de analisar as sessões de treinamentos de categorias de base e escolinhas no futebol, das considerações teóricas apresentadas na revisão de literatura e dos resultados obtidos, as seguintes conclusões podem ser formuladas.
A análise dos resultados confirma algumas similaridades nos segmentos do treinamento, principalmente no segmento jogo propriamente dito, onde as equipes ocupam a maior parte do tempo integral, sendo que algumas vezes o jogo correu sem organização didática e intervenção construtiva do treinador. Revelou-se também, nas duas equipes, a pouca utilização dos exercícios de fundamentos individuais fora do contexto do jogo.
Apesar desta constatação positiva, observamos novamente algumas semelhanças entre as duas equipes nos exercícios do complexo de jogo I, onde ambas as equipes não utilizaram uma progressão lógica, mostrando pouca preocupação com a repetição sistemática das situações tático-técnicas para aquisição de padrões de comportamentos da equipe.
Quanto às tarefas mais aplicadas nas sessões de treinamento e o tempo gasto em cada segmento nos treinamentos, observou-se diferenças entre as equipes. Na categoria de base a preferência foi dada para o treinamento físico e o complexo de jogo II, enquanto a escolinha deu ênfase em suas tarefas para a combinação de fundamentos. Também observamos que o tempo total de treinamento da categoria de base foi superior ao tempo total de treinamento da escolinha
Os resultados obtidos indicam que ambas as equipes, não utilizaram uma metodologia apoiada na compreensão, que exija reflexão do ambiente e que vise o desenvolvimento de atletas pensantes, já que a realidade do jogo indica a necessidade constante de tomada de decisão e antecipação das ações.
Ao analisarmos os dados na observação dos treinamentos, é importante considerarmos os objetivos distintos de cada equipe. Ficou clara a maior cobrança por resultados e maior preocupação com o rendimento da equipe da categoria de base, num período de jogos decisivos do campeonato estadual, enquanto a escolinha realizava seus treinamentos preparando-se para uma competição regional.
Não pretendemos nesse estudo, opor-se aos conceitos de treinamentos vistos nas observações. Inegavelmente os dados obtidos revelam aspectos importantes sobre as metodologias do ensino e do treinamento da modalidade de futebol.
Procurou-se evidenciar nesse trabalho, uma reflexão crítica, contribuindo para a evolução do ensino-aprendizagem-treinamento do futebol, possibilitando um aprofundamento dos profissionais envolvidos nesse processo.
Para findar, entendemos que nossas constatações não resolverão todos os problemas que envolvem o treinamento de futebol. Acreditamos que esse estudo possa contribuir para evolução do futebol, bem como servir de referência para outras investigações que envolvam o futebol em outros ambientes e em diferentes contextos.

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