FORMAÇÃO DE JOGADORES DE FUTEBOL
Formação de
Jogadores de Futebol:
As Ações e
As Conseqüências
Precisamos
entender bem qual tipo de atleta que queremos formar e qual a identidade do
nosso futebol
Recentemente
estive com um treinador de categorias de base de um clube argentino. Ele passou
15 dias no Brasil acompanhando jogos e treinos de categorias menores, desde o
sub-11 até o sub-20.
Ele
considerou muito proveitoso a experiência e falou-me um pouco sobre o trabalho
que realizava na Argentina.
Em uma das
conversas, apontou-me algo sobre a dinâmica de jogo, que (segundo ele)
caracterizava bem a diferença do futebol praticado em seu país (pelos jogadores
em formação) e do praticado pelos jovens jogadores no Brasil.
O que mais
lhe chamou a atenção foi o fato de que, enquanto na Argentina, as equipes
procuravam circular mais a bola, até encontrar situações de 2 vs 1 ofensivo, no
Brasil, jogadores desfilavam um jogo de progressão ao ataque quase que
constante, buscando invariavelmente situações de 1 vs 1.
Pois bem.
É de certa
forma aceitável dizer que, tanto ao senso comum quanto aos profissionais
especializados em futebol, o “talento individual” dos jogadores (chavão
futebolístico) é o que decide os jogos.
Eu não
quero, aqui, discordar. Não, não é o caso. O que pretendo é chamar a atenção
para o fato de que há implicações importantes para o processo (principalmente
para o final dele), que estão diretamente relacionadas com o tipo de dinâmica
de jogo, propostas para (e por) equipes e jogadores nas categorias de base.
Em outras
palavras, estou dizendo que um jogo de progressão ao ataque, com busca pelo 1
vs 1, ao longo dos anos, formará jogadores adaptados a responder de determinada
maneira aos problemas que venham surgir no jogo.
Essa
maneira é um resultado final diferente daquele encontrado, após anos de jogo de
circulação de posse da bola na busca de situações de 2 vs 1 ofensivo.
Quais serão
as respostas finais mais particulares aos jogadores imersos nesta, ou naquela
dinâmica, é difícil saber com exatidão.
O fato é
que precisamos entender quais as implicações para a formação de um jogador que
vai se tornar profissional, de determinada organização, modelo, filosofia ou
cultura de jogo.
E se o
"talento individual" resolve jogos, poderá ele, estar a se referir,
por exemplo, a habilidade de um jogador de individualmente, "partir para
dentro", driblar e resolver o problema do jogo (fazer o gol); ou poderá,
talvez, remeter-nos à idéia de que se refere a sua excepcional leitura de jogo
para conseguir colocar seu companheiro de time em uma condição altamente
favorável (por exemplo, de 2 vs 1 ofensivo).
Independente
do que seja o "talento individual que decide o jogo", se não
entendermos bem qual tipo de jogador queremos formar e qual a identidade do
nosso brasileiro futebol, como poderemos propor dinâmicas de treino e de jogo
que sejam favoráveis para isso no curto, no médio e no longo prazo?
Olhemos,
por exemplo, para o basquetebol. Enquanto por anos o mundo jogava um jogo de
marcação à zona, o que fazia a NBA (Associação Nacional de Basquetebol dos
Estados Unidos)?
A NBA exigia, de maneira regulamentada, marcação individual. E o que isso trouxe para a dinâmica de jogo e para as ações dos jogadores?
A NBA exigia, de maneira regulamentada, marcação individual. E o que isso trouxe para a dinâmica de jogo e para as ações dos jogadores?
Ofensivamente,
trouxe desmarques, fintas espetaculares, dribles de corpo e belas
"enterradas". Defensivamente, ataques agressivos a bola e
"tocos".
O basquete
jogado nos EUA desenhou-se então de maneira bem diferente daquele praticado
pelos outros países no mundo (e da mesma forma aconteceu com o tipo de jogador
presente nas equipes norte-americanas).
No futebol
de base no Brasil, por alguns anos, a grande "moda" foi o jogo dos
chutões. Depois, os "chutões" no 1-3-5-2. Mais à frente a marcação à
zona, e mais recentemente as linhas de 4 (com o 1-4-2-3-1 prevalecendo).
Nada contra
qualquer uma das "modas".
Mais uma
vez saliento que precisamos entender as implicações finais daquilo que hoje é
proposto na dinâmica (na organização, no modelo, na filosofia, etc.) de jogo,
para a formação do jogador que queremos ter representando o futebol brasileiro
(nas equipes profissionais e conseqüentemente na seleção nacional).
"Planejar
errado, é planejar o fracasso" (José Mourinho).
O
"processo" é um caminho que, se for errado, nos faz, mesmo andando
para frente, ficarmos mais distantes do horizonte almejado.
Desconhecer
a força resultante de nossas ações é fortalecer a inércia!
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