Treinamento de Futebol - II parte


Agora, vamos a um exemplo prático. Imagine um grupo de atletas que está iniciando no futebol e que, portanto, ainda não domina os fundamentos técnicos. Um exercício bastante comum é o zigue-zague entre cones, buscando aperfeiçoar o controle de bola durante a condução.

De forma geral, exercícios analíticos retiram a imprevisibilidade do jogo, treinando apenas um elemento que o compõe. No caso do exemplo acima, este elemento é a condução de bola. Desde o início, o aluno ou jogador que realiza a atividade, já sabe todo trajeto que deverá percorrer, ou seja, não existem influências de fatores imprevisíveis.

Contudo, exercícios analíticos não são aplicados apenas na iniciação, mas ao longo de todo o processo de formação do jogador - inclusive no profissional. Abaixo, você pode acompanhar uma animação construída baseada em uma atividade realizada por um treinador de uma equipe de São Paulo.

Durante esta atividade, o treinador orientava que todos os jogadores realizassem as ações da mesma maneira, buscando perfeição no movimento. Frases como "por este lado", "com a parte de fora do pé", "coloca curva na bola" foram escutadas a todos os momentos.

Nosso objetivo com a animação acima não é discutir sua eficiência ou aplicabilidade desta atividade em especial, mas apresentar elementos que constituem a metodologia tradicional de treinamento e as características dos exercícios analíticos. Neste exemplo, as habilidades de conduzir, driblar, cruzar e cabecear são trabalhadas de formas previsíveis e isoladas do contexto de jogo, caracterizando o exercício analítico.

Na metodologia tradicional, a técnica do movimento não é o único foco do treinamento no futebol. Treinamentos físicos e táticos também são realizados, pautados em exercícios analíticos. Iniciaremos com um exemplo do trabalho físico realizado de forma segmentada. Assista ao vídeo abaixo, com trechos de treinamentos de uma equipe da Itália.

Num jogo de futebol, um jogador realiza diversos saltos, corridas em alta e baixa velocidade, mudanças de direção, etc. Baseados nestas informações, preparadores físicos que acreditam em exercícios analíticos, trabalham as capacidades físicas separadamente, através de circuitos, treinamentos intervalados e contínuos, saltos sobre cones, etc., para que estas capacidades adquiridas sejam aproveitadas durante o jogo de futebol.
Neste sentido, as avaliações físicas também são realizadas com testes analíticos e buscam medir o desempenho dos atletas.

Porém, trabalhar os aspectos físicos de forma segmentada, baseados na quantificação das demandas do jogo não é única forma de preparar o jogador para uma partida.

Esta discussão será retomada ao longo deste curso.
Seguindo a mesma linha de raciocínio, o treinamento tático também é feito de forma segmentada, a partir de exercícios analíticos. Busca-se, através de movimentações pré-definidas e previsíveis, a repetição de padrões de movimentação da equipe. O objetivo, com esse tipo de trabalho, é que estes padrões treinados apareçam durante o jogo. Observe abaixo um vídeo de um treino de um treinador de uma equipe de Minas Gerais, buscando ultrapassagens e jogadas pela lateral.

Em suma, os principais conceitos do treinamento tradicional foram resumidos e apontados a seguir.

A partir destes conceitos, no quadro abaixo, discutiremos algumas possíveis conclusões a respeito do treinamento tradicional.

Porém, o objetivo deste curso não é discutir a metodologia tradicional de treinamento. O que você viu até agora servirá de base para alguns contrapontos, críticas e novas propostas que virão a seguir.

Formação do Jogador

A partir de agora, depois de feita a análise da metodologia tradicional, passaremos a buscar alternativas sobre o que pode ser feito para aperfeiçoar os treinamentos no futebol. Como preencher as lacunas deixadas pelos exercícios analíticos? Se a ênfase na formação não deve estar na técnica, mas no jogar - o que deve fazer parte do processo de formação?
Para dar início a esta discussão, assista ao vídeo  - um trecho da entrevista realizada pela Universidade do Futebol com o Prof. Dr. Júlio Garganta, renomado estudioso do futebol da Universidade do Porto (Portugal).
 
Competências Essenciais para jogar:
 
O que é Jogo?
Os jogos possuem estruturas que organizam os jogadores, as regras, as estruturas motrizes e as condições externas. Esses elementos se interagem de maneira complexa, ou seja, todos eles influenciam um ao outro, continuamente, enquanto o jogo se desenrola, gerando, ao mesmo tempo, emergências. Essas emergências são as novas aprendizagens que possibilitam o surgimento de novas adaptações emocionais, físicas, cognitivas e motoras.
Temos que pensar no objetivo do jogo proposto e se ele criará, realmente, um ambiente propício para a aprendizagem. O jogo tem que ter significado para quem pratica, senão ele pode acabar não sendo jogo. Para ser jogo, precisa ter regras definidas que absorvam os participantes para o mundo do jogo, que é (quase) outra realidade. Se for jogo, traz imprevisibilidade e incerteza; exige  o enfrentamento de situações-problema pelo jogador, que não sabe exatamente o que está por vir.
Portanto, o professor/treinador que utiliza um jogo precisa pensar muito bem em como esse jogo funcionará e o que causará em seus alunos. Além disso, como veremos mais adiante neste curso, para que os jogos tragam os efeitos desejados, é necessário que estejam incluídos em um processo de aprendizagem maior.
 

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