Treinamento de Goleiros
Treinamento de goleiros: Método Analítico ou Método Global?
A evolução dos métodos de ensino no treinamento de
goleiros transcende o conhecimento empírico adotado há décadas por preparadores
Cleber Sgarbi*
O futebol evoluiu
muito nos últimos anos, e com o crescente progresso do treinamento esportivo,
algumas áreas específicas como o treinamento de goleiros vêm ganhando destaque
nas últimas décadas.
Em relação aos métodos de ensino, podemos dizer que é um conjunto de
ações e procedimentos, nos quais o preparador de goleiros, através da
organização dos conteúdos do treino (atividades de ensino), condiciona os
goleiros a atingirem objetivos específicos como, a assimilação consciente dos
conhecimentos e o desenvolvimento das capacidades cognitivas e operativas.
Podemos citar alguns exemplos como o Método de Exposição – Explica o
conteúdo; Método de Observação – Observação (visual); Método Individualizado –
Necessidades individuais; Método Analítico – Desenvolve as partes do todo;
Método Global – Desenvolve o todo.
Ainda há muitas perguntas sobre qual método é melhor e mais eficiente no
processo ensino/aprendizagem/treinamento. Partindo destas indagações, busquei
fazer uma pesquisa sobre os métodos de ensino que mais são utilizados no
treinamento de goleiros hoje em dia.
Na década de 70, a figura do preparador de goleiros não existia, os
trabalhos eram realizados pelos próprios goleiros ou pelos preparadores físicos
e os cuidados designados à formação ou aperfeiçoamento técnico dos goleiros
eram mínimos.
Os exercícios compreendiam a movimentos ginásticos, flexões, abdominais,
exercícios com pesos, técnicas de finalizações e intersecções sobre a área de
meta. Os métodos de ensino se baseavam no conhecimento empírico de cada atleta.
Hoje em dia, encontramos uma série de métodos de ensino sendo praticados
e os que mais são utilizados são os métodos analíticos e globais. Todos os
métodos têm sua importância em distintos momentos da preparação de um goleiro,
cabe ao preparador de goleiros escolherem o método certo para o momento certo.
MÉTODO DE ENSINO ANALÍTICO
O Método Analítico é utilizado desde a década de 60, e é centrado na
técnica, em exercícios onde há predominância de repetições dos gestos
esportivos e na especialização precoce do aluno em cima de algumas técnicas
específicas. Esse método caracteriza-se pela repetição, ajudando assim, a
memorizar e a automatizar o gesto técnico em nosso Sistema Nervoso Central
(SNC), é o aprendizado de técnica por técnica, gesto por gesto.
As habilidades são treinadas fora do contexto de jogo para que, depois,
possam ser transferidas para as situações de jogo propriamente ditas, ou seja,
consiste em ensinar destrezas motoras por partes, para, posteriormente, uni-las
(SANTANA, 2005, MATTA; GRECO, 1996, TONROLLE, 2004)
Ficou claro que o Método de Ensino Analítico caracteriza-se por inúmeras
repetições, maior contribuição no processo ensino/aprendizagem, o aprendizado
das técnicas se torna mais fácil e rápido, é o melhor método para o ensino e
aperfeiçoar dos gestos técnicos, facilita a execução dos exercícios,
possibilita um melhor desenvolvimento motor específico, fica fácil a
individualização dos treinos técnicos, além disso, é possível corrigir
imediatamente o que precisa melhorar.
Resumindo: Pode-se treinar somente um tipo de técnica, até que ela
esteja bem desenvolvida e assimilada pelo goleiro. Esse método é muito
utilizado nas categorias de base, onde os jovens goleiros estão aprendendo as
técnicas. Também é muito utilizado no âmbito profissional no período das
pré-temporadas, com o objetivo de aperfeiçoar a técnica já aprendida na base.
Ou ainda, para corrigir um possível erro do gesto técnico em uma determinada
ação motora realizada no jogo.
MÉTODO DE ENSINO GLOBAL
O Método de Ensino Global é centrado na tática do jogo, cujo ambiente se
torna mais prazeroso, a especialização precoce de algumas habilidades é
refutada e o objetivo principal é o desenvolvimento da inteligência do
aprendiz. Esse método caracteriza-se por apresentar situações reais de jogo, ou
seja, modelo de jogo como base do processo de treino e parte da totalidade do
movimento, caracterizando-se também pelo aprender jogando.
O ponto de partida é a equipe, que aprende a jogar através do deixar
jogar, onde o aprendiz aprende diretamente a partir da própria experiência, com
o auxilio indireto do professor/técnico. Alguns autores acreditam que o treino
não pode ser realizado somente através de soluções impostas, pois as ações se
tornam mecanizadas e a criatividade para “resolver problemas” não se desenvolve
em sua plenitude. (TONROLLER, 2004; CORRÊA; SILVA; PAROLI, 2004; RESENDE, 2007;
SANTANA, 2005)
Podemos ver claramente que esse método caracterizam-se pelo aprender
jogando. O repertório motor fica vasto e aperfeiçoado para o jogo, há uma maior
interação com outros setores da equipe. O desenvolvimento tático específico de
jogo fica mais evidente, a percepção de espaço e cognitiva fica aperfeiçoada –
posicionamento e colocação na área de meta, percepção das jogas, reações e
tomadas de decisões mais rápidas, além de uma maior concentração nas ações que
ocorrem no campo de jogo.
Para que o processo ensino/aprendizagem/treinamento dos gestos técnicos
específicos tenham maior êxito, o Método de Ensino Analítico oferece maiores
contribuições, pois a partir das repetições dos movimentos, se automatiza o
gesto específico de uma modalidade esportiva.
Em contrapartida, para que o processo de ensino/aprendizagem/treinamento
da capacidade de tomada de decisão e raciocínio rápido, integração com outros
setores da equipe e execução de ações específicas em situações reais de jogo, o
Método de Ensino Global oferece maiores contribuições, pois o goleiro aprende
vivenciando o jogo propriamente dito.
Em outras palavras, além do habitual treino de repetições dos gestos
técnicos específicos, concordo com Oliveira (2004) quando diz que, “só podemos
falar de especificidade no treino, quando existe uma relação constante entre os
componentes tático-técnicos, psico-cognitivos, físicos e coordenativos, em
correlação permanente com o modelo de jogo adaptado pelo treinador e
respectivos princípios que lhe dão corpo.”
Ou seja, cabe ao preparador de goleiros analisarem e identificar as
necessidades individuais ou do grupo de goleiros, escolherem o melhor método de
ensino a ser aplicado e em que momento deve ser aplicado.
Então, pergunto a você, preparador de goleiros:
Você tem consciência do método que está utilizando em seus treinamentos?
Você sabe diferenciar um método de outro?
Todos os goleiros necessitam deste método?
Em que momento deve ser utilizado tal método?
Com que frequência você utiliza?
Está tendo feedback com seus goleiros?
Está tendo resultados positivos?
CONCLUSÃO
Não podemos comprovar qual método é mais ou menos eficiente, mas podemos
ver claramente que a utilização de um determinado método em um determinado
período do treinamento, pode influenciar diretamente no processo de aprendizado
ou não dos gestos técnicos.
Cabe ao preparador de goleiros, analisar e diagnosticar as necessidades
individuais ou do grupo, a partir de aí, planejar os treinamentos utilizando o
método mais pertinente ao estagio atual de desenvolvimento dos futuros atletas
ou atletas.
BIBLIOGRAFIA
SANTANA, Wilton Carlos de. Futsal: metodologia da participação.
Londrina/PR: 1996
CORRÊA, U.C.; SILVA, A.S.; PAROLI, R. Efeitos de diferentes métodos de
ensino na aprendizagem do futebol de salão. Motriz, v.10, n.2, p.79-88, 2004.
GRECO, P.J. Iniciação Esportiva Universal – Metodologia da Iniciação
Esportiva na Escola e no clube. Belo Horizonte.UFMG, 2007.
MATTA, M.O.; GRECO, P.J. O processo de ensino-aprendizagem-treinamento
da técnica esportiva aplicada ao futebol. Revista Mineira de Educação Física,
v.4, n.2, p.34-50, 1996.
RESENDE, A.L.G. Avaliação crítica dos modelos pedagógicos de ensino das
habilidades táticas no futebol. In: XV CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO
ESPORTE, 2007. Recife. Anais... Recife: Colégio Brasileiro de Ciências do
Esporte, 2007. p.1-10.
SILVA, M.V.; GRECO, P.J. A influência dos métodos de
ensino-aprendizagem-treinamento no desenvolvimento da inteligência e
criatividade tática em atletas de futsal. Revista Brasileira de Educação Física
e Esporte, v.23, n.3, p.297-307, 2009.
TENROLLER, C.A. Futsal: ensino e prática. Canoas: ULBRA, 2004.
* Preparador de goleiros do E.C.Passo Fundo/RS.
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