O método global integrado e o método analítico no futebol
O método global integrado e o método
analítico no futebol
Rodrigo Azevedo Leitão
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Ao longo de décadas, e virando o século, muitos pesquisadores vêm
estudando o ensino e desenvolvimento das habilidades técnicas nos esportes
coletivos.
O objetivo impulsionador da maior
parte dos estudos sempre foi o de entender como alcançar com os treinamentos a
maestria desportiva e como maximizar o desenvolvimento técnico específico de
jogadores e equipes.
A percepção de que a repetição
sistemática de gestos nos treinamentos, para melhorar as habilidades técnicas
de jogo nos esportes coletivos, não correspondia necessariamente, sob o ponto
de vista cognitivo e neuromotor, à repetição do real gesto solicitado durante
uma situação de jogo, trouxe à tona, a necessidade de se entender como tratar
do desenvolvimento das habilidades técnicas, de maneira a atender a
manifestação motora específica exigida no jogo.
Em outras palavras, além do habitual
treino de repetição de gestos técnicos (de passes, cabeceios, chutes, etc.),
tornou-se necessário o desenvolvimento de treinos que dessem conta, de não mais
repetir apenas gestos, mas sim repetir sistematicamente ações (ações de passes,
ações de cabeceio, ações de finalizações).
Desta maneira, métodos de ensino e
treinamento da técnica nos esportes coletivos tornaram-se objeto de estudos e
de aplicação.
No futebol, dentre os métodos
amplamente estudados e utilizados, destacaram-se principalmente os métodos
“analítico” e “global”.
O método analítico, herdeiro
especialmente das práticas empíricas, foi nos primórdios do treinamento
técnico, o principal método empregado por equipes de futebol; das escolinhas,
passando pelas categorias de base, até o profissional. No Brasil é o método de
raízes mais profundas.
O método global, oriundo do
redirecionamento dos olhares da ciência, à prática esportiva dos jogos
coletivos, foi ganhando um grande corpo de conteúdos e de interessados, e
passou a ser estudado e empregado em centros onde “construir o talento” passou
a ser uma necessidade e uma resposta as dificuldades de se “encontrar o
talento”. Na Espanha encontrou seu principal porto de desenvolvimento (não só
no futebol, mas também no futsal, basquetebol, voleibol e handebol).
Hoje, na prática do futebol, o método
analítico se caracteriza pela realização de exercícios técnicos, com repetição
sistemática de gestos, que são fragmentados e retirados do contexto
circunstancial-situacional de jogo.
O método global por sua vez, se
caracteriza pela repetição sistemática das ações (balizada pela aleatoriedade e
imprevisibilidade do jogo) em contexto de jogo, integrando ao desenvolvimento
técnico, o desenvolvimento tático individual e coletivo, bem como o
desenvolvimento físico (enfim, o desenvolvimento do jogar).
A Ciência não nega os feitos e benefícios
do método analítico, afinal, especialmente no futebol, muitos problemas ao
longo da história, foram sendo resolvidos através dele.
Há, porém, que se destacar que as
soluções dadas pelo método analítico deixaram lacunas, que até certo ponto,
frearam o desenvolvimento dos jogadores. Isso gerou novas perguntas (novos
problemas), que não poderiam ser respondidas com as mesmas respostas.
Infelizmente, muitos dos “gestores
maiores” nos clubes de futebol (nas categorias menores ou no profissional),
aqueles que tem poder de decisão para mudar o rumo das coisas, viveram uma
época de aprendizagem em que a lição formal era dada pelo método analítico (sem
se dar conta, muitas vezes, de que a lição que realmente lhe valeu frutos foi
ensinada nas ruas, nas peladas das periferias, de um “jeito global”, que não
era método).
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