As regras certas e a dinâmica do jogo: favoreça um treinar (jogar) de qualidade
parte I
Proposta debate regras que
podem potencializar aquisição de comportamentos coletivos na equipe
Você tem sido assertivo na elaboração
do seu planejamento semanal? As atividades que você e sua comissão técnica
pensaram estão colaborando satisfatoriamente para a evolução do nível de jogo
de sua equipe? A evolução tem incidido sobre as quatro vertentes do futebol ao
mesmo tempo? O jogo que você joga em sua cabeça para cada uma das imprevisíveis
situações de um jogo contra qualquer adversário, seus jogadores também o tem
jogado?
A resposta afirmativa para estas
questões introdutórias, de profissionais do futebol que trabalham a partir de
uma perspectiva sistêmica, é difícil inclusive para quem já tem experiência em
utilizar o jogo como método de ensino. Se respondeu positivamente, esteja certo
de que você, sua comissão e, principalmente, sua equipe estarão à frente das
demais.
Caso a resposta não seja afirmativa,
mesmo que para somente uma das perguntas (apesar de acreditar que todas estão
inter-relacionadas), um dos motivos pode ter origem nas regras das atividades
criadas que, com as reflexões proporcionadas nas próximas linhas, terão
possibilidades de solução.
Há alguns meses, publiquei sobre a
importância do princípio das propensões
na elaboração da sessão de treinamento. Na ocasião, mencionei, porém não me
aprofundei, a importância da correta elaboração das regras dos jogos criados
para o cumprimento deste princípio.
Mais recentemente, elaborei uma
atividade de análise de jogo qualitativa para diferentes turmas de um curso de
pós-graduação em futebol no qual sou professor. A avaliação consistia em, a
partir da cópia digital do jogo em formato de DVD e determinados intervalos de
tempo, analisar o comportamento de duas equipes em cada um dos momentos do jogo.
Além disso, foram propostas duas questões finais que solicitavam a elaboração
de uma síntese de um novo Modelo de Jogo da equipe derrotada e a criação de uma
atividade que, pelas suas características, poderia levar a cabo o comportamento
pretendido.
Digo “poderia”, pois, como afirmam
alguns estudiosos da modalidade, os exercícios de futebol em situações de jogo
são somente potencialmente específicos. Transformá-lo em jogo, garantir o estado de jogo
por parte dos participantes e intervir didática e corretamente são questões
indispensáveis para quem adota este método.
E ao analisar os inúmeros trabalhos,
cerca de 40 dos mais de 60 que tenho para corrigir, percebi uma grande
dificuldade dos alunos (daqueles que realmente fizeram e não dos que somente
copiaram) em transformar determinado objetivo, mais especificamente algum
exercício, em jogo. Ou
seja, eu esperava mais!
Quem acompanha futebol de alto nível pode
observar a manifestação de diversos princípios de jogo e ter o interesse
despertado em criá-los em sua própria equipe. Bloco alto, pressing zonal,
penetração, amplitude, compactação, flutuação, progressão com passes curtos,
mobilidade são apenas alguns dos exemplos de comportamentos coletivos das
grandes equipes do futebol mundial que muitos treinadores (dos mais variados
segmentos e escalões) tentam reproduzir em seus liderados.
Todavia, na tentativa desta reprodução
pode estar o grande equívoco na elaboração dos jogos. Como já abordei na coluna
de tempos atrás, uma equipe não irá compactar adequadamente na sessão de
treinamento se isto não for uma referência coletiva comum para dada
situação-problema do jogo criado.
Uma equipe não irá progredir predominantemente
com passes curtos se este comportamento não for hábito. Enfim, para cada
atividade criada, não basta seu interesse em estimular determinado princípio de
jogo. As regras, que formarão um exercício com uma lógica própria, devem
convergir para aquilo que precisa ser treinado.
Como sabemos, no futebol, as regras e
referências do jogo (alvos, terreno, bola) deixam claros que quem fizer mais
gols será o vencedor da partida. Já nas sessões de treinamento, as regras e
elementos do jogo podem (e devem) ser diferentes. E com o objetivo de auxiliar
na elaboração/criação de regras que potencializem a ocorrência de determinados
comportamentos coletivos, em colunas futuras sobre este tema, trocaremos
discussões e sugestões que acelerem nosso processo de resposta afirmativa para
os quatro questionamentos do início do texto.
Acredito que a eficácia na manipulação
de todas as regras do jogo de futebol e a adequação para o nível de jogo atual
além do pretendido são variáveis determinantes para o sucesso de sua equipe.
Aqueles que nunca treinaram com jogos, com o norte de algumas regras como
auxílio, poderão acelerar o processo de capacitação a aceitação do método.
Aqueles com visão integrada poderão perceber se as regras que criam para
atingirem determinados objetivos físicos (ou técnicos, ou táticos) estão em
consonância com o Modelo de Jogo da equipe e com a Lógica do Jogo de futebol e,
por fim, aqueles que dominam a utilização de jogos na perspectiva da
complexidade poderão contribuir significativamente com novas possibilidades e
comentários que serão publicados com os devidos créditos na coluna posterior
que tratar do tema.
E quando muitos de nós estivermos
respondendo afirmativamente para aquelas quatro questões do início do texto,
provavelmente, teremos que rever nossos conceitos, pois os estudiosos do
futebol (aqueles mesmos que afirmam que os exercícios são somente
potencialmente específicos) também afirmam que o Modelo de Jogo deve ser
utópico, inatingível e em constante evolução.
Coisas do (complexo) futebol!
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