A Importância sa Formação do Treinador de Futebol
Especial: a Importância da Formação
do Treinador de Futebol – parte II
Uefa acredita que
treinadores bem preparados irão contribuir para a formação de melhores
futebolistas, com benefícios evidentes para o desenvolvimento da modalidade
Equipe Universidade do
Futebol
Como
vimos na primeira parte deste especial, o cargo de treinador de futebol exige,
nos dias atuais, capacidades e qualidades muito diferentes de décadas atrás, em
alguns países (principalmente do continente europeu) isto já parece ser consenso.
Na
Europa, os bons resultados esportivos, como os que a Espanha vem alcançando nos
últimos anos, têm uma conexão direta com uma formação de qualidade para os
treinadores, a fim de que estes possam realizar bons trabalhos
independentemente dos níveis em que atuam.
Na
parte II do especial sobre a formação de treinadores de futebol, iremos abordar
as diretrizes da Uefa para a formação de treinadores e algumas peculiaridades
de importantes federações filiadas a ela.
Para
o dirigente Espanhol Ginés Melendez, a entidade máxima do futebol europeu é
parte fundamental no processo de avanço do futebol daquela região, pois o
programa de formação de treinadores, a convenção de treinadores e outras
iniciativas desenvolvidas pelo órgão ajudaram a elevar os padrões de qualidade
da modalidade em todo o continente. Meléndez parece ter razão.
A
formação destes gestores técnicos encontra-se no topo da lista de prioridades
técnicas da entidade presidida por Michel Platini e também das federações
nacionais de toda a Europa.
O
ponto de vista global é simples e direto: treinadores bem preparados irão
contribuir para a formação de melhores futebolistas, com benefícios evidentes
para o desenvolvimento da modalidade.
Porém,
o processo de implementação desse novo paradigma é trabalhoso e exige um
esforço constante, tanto da Uefa, como das federações afiliadas, que não apenas
mudaram as leis regulamentadoras da profissão de treinador de futebol, mas têm
a obrigação de fiscalizar tal mudança de cultura no país. Para se ter uma noção
deste processo basta olhar para o tempo de intervalo entre a primeira reunião
para discutir a necessidade de formação dos treinadores e o reconhecimento
mútuo de habilitações de treinadores da Uefa.
Contudo,
hoje a conscientização dos profissionais do futebol em relação à necessidade de
formação já é uma realidade no continente europeu, como relata Patrick Bonie,
em entrevista ao site da entidade:
"Ao
longo da última década, reestruturamos a nossa área de formação de treinadores,
estabelecendo uma nova filosofia e criando um ambiente de aprendizagem
adequado. No passado, os ex-jogadores encaravam com algum receio os cursos de
treinadores. Mas o esquema de licenciamento da Uefa constituiu um enorme ímpeto
e creio que os antigos jogadores perceberam que, sem um curso de treinadores,
ficam um pouco aquém a nível de organização, planejamento, gestão de jogadores
e aspectos básicos como estruturação e controle dos programas de treino. Apesar
de ter tido a felicidade de realizar o meu curso de treinador enquanto ainda
jogava, na Escócia, percebi depressa que não se tratavam de áreas fáceis de
dominar”.
Nessa esteira, a Uefa criou dois elementos significativos: o modelo de formação de treinadores, com o intuito de direcionar as formações oferecidas pelas federações filiadas à Uefa, e o Painel Jira (nome em homenagem ao ex-treinador Tcheco Václav Jira, falecido em 1995), comissão que visa discutir questões específicas à formação do treinador e do futebol europeu. Esse grupo trabalha de forma constante e em conjunto com outros setores em ações que visam melhorar diversos aspectos da formação, além de promoverem diversos encontros, simpósios e publicações como a revista The Technician, direcionada aos treinadores, além de muitas outras ações.
Como o próprio nome diz, as diretrizes de formação da Uefa têm o intuito de direcionar o trabalho das 53 federações filiadas; além disso, a uniformidade criada possibilita que os treinadores possam trabalhar em outros países do continente com o título que obtêm em um curso de uma federação específica.
Nessa esteira, a Uefa criou dois elementos significativos: o modelo de formação de treinadores, com o intuito de direcionar as formações oferecidas pelas federações filiadas à Uefa, e o Painel Jira (nome em homenagem ao ex-treinador Tcheco Václav Jira, falecido em 1995), comissão que visa discutir questões específicas à formação do treinador e do futebol europeu. Esse grupo trabalha de forma constante e em conjunto com outros setores em ações que visam melhorar diversos aspectos da formação, além de promoverem diversos encontros, simpósios e publicações como a revista The Technician, direcionada aos treinadores, além de muitas outras ações.
Como o próprio nome diz, as diretrizes de formação da Uefa têm o intuito de direcionar o trabalho das 53 federações filiadas; além disso, a uniformidade criada possibilita que os treinadores possam trabalhar em outros países do continente com o título que obtêm em um curso de uma federação específica.
Ao
longo do especial, apresentaremos algumas características peculiares ao que é
estabelecido em algumas das principais escolas européias.
A
estrutura organizada pela Uefa possui três níveis: Uefa B Licence, Uefa A
Licence e Uefa Pro Licence, de acordo com a organização apresentada abaixo.
Porém, o Painel Jira trabalha constantemente para inserir outras formações a
estes níveis, como, por exemplo, formação para treinadores de goleiros.
As
federações, entretanto, costumam dentro dessa organização dividir a formação
delas em níveis (três ou quatro geralmente); peguemos aqui o exemplo dos órgãos
espanhol e alemão:
A
representação do atual futebol campeão europeu e mundial divide-se em três
níveis: 1) Treinador de futebol de base; 2) Treinador de futebol regional; 3)
Treinador de futebol nacional. Cada um destes apresenta basicamente quatro
blocos de ensino:
Essa
organização permite não apenas que os treinadores passem por mais de 1.800
horas de conteúdo teórico-prático, como também vivenciem diferentes contextos
que vão desde categorias de base até o alto rendimento. Além disso, esse tipo
de organização favorece que o aspirante a treinador trace um “plano de
carreira”, o que o fará dedicar-se à profissão de treinador de futebol. Cada
nível pode custa um valor entre 1.000,00 e 1.200,00 euros ao candidato.
Vejamos
por exemplo, a opinião de Lars Lagerbäck, antigo treinador da Suécia que
atualmente ocupa o cargo na seleção da Islândia sobre a importância de se
formar bons treinadores por intermédio de programas qualificados e organizados:
“Não importa se você está treinando na Espanha, na Suécia, ou se está à frente de uma equipe de categoria de base ou de um clube de pequena dimensão. Com a minha experiência, posso dizer que um treinador com formação de qualidade pode provocar grandes diferenças para a obtenção de resultados, na transformação de jovens jogadores ou em futebolistas de excelência”, afirma Lars.
Já a
Alemanha, possui em sua organização também uma pirâmide, na qual a base do
conteúdo é ofertada pela internet, de modo online, facilitando o acesso de
treinadores independentemente do local em que estes trabalham.
Além
disso, a federação alemã tem parceria com as federações regionais, que aplicam
os cursos e fiscalizam a atuação dos treinadores em território nacional,
facilitando, assim, a divulgação dos conhecimentos e o controle da atuação do
treinador.
Veja
abaixo uma adaptação feita pela Universidade do Futebol da estrutura de
qualificação germânica:
Percebe-se
uma estrutura semelhante entre a federação espanhola e a alemã, na qual os
conteúdos sofrem uma progressão de acordo com o nível de competitividade a que
o treinador estará habilitado para enfrentar.
Na seqüência,
elencamos alguns exemplos e depoimentos de como a Uefa e o Painel Jira se
esforçam para desenvolver a formação de treinadores em todo o território
europeu.
Painel Jira e o desenvolvimento da formação de treinadores
Painel Jira e o desenvolvimento da formação de treinadores
Como
referido desde o início do especial, em linhas gerais, a Uefa compreende que,
para se formar jogadores extraordinários e possibilitar que estes demonstrem ao
máximo o seu talento, necessitam-se de treinadores igualmente extraordinários,
mas, para a Uefa, treinadores com tais capacidades não surgem ao acaso: “São,
acima de tudo, produto de um sistema educacional de alta qualidade”, crê o
organismo europeu.
Nesse
sentido, durante as reuniões do Painel Jira, alguns convidados juntam-se a
estes especialistas com o objetivo de assegurar que sejam mantidos os mais
altos padrões na tentativa de formar treinadores de top.
O
painel apóia os trabalhos do Comitê de Desenvolvimento e Assistência Técnica da
Uefa e, mais especificamente, oferece suporte às suas 53 federações filiadas,
aos clubes e a outras partes interessadas na formação de treinadores. Contribui
também para a aplicação e implementação da Convenção de Reconhecimento Mútuo
das Qualificações de Treinadores, com o objetivo de proteger a profissão de
treinador de futebol e facilitar a livre circulação destes profissionais dentro
da Europa.
O diretor técnico da Federação Tcheca de Futebol (CMFS), Dušan Fitzel, que integra o Painel Jira, relata ao site da Uefa a experiência: “Fazer parte de um grupo de treinadores, diretores técnicos e formadores de tamanha qualidade é uma excelente oportunidade para adquirir mais conhecimentos, partilhar experiências e ouvir opiniões de diferentes países e federações”, afirmou. “Estou certo de que a nossa federação irá beneficiar bastante com esta experiência, tal como eu me beneficiarei, em nível pessoal”.
O diretor técnico da Federação Tcheca de Futebol (CMFS), Dušan Fitzel, que integra o Painel Jira, relata ao site da Uefa a experiência: “Fazer parte de um grupo de treinadores, diretores técnicos e formadores de tamanha qualidade é uma excelente oportunidade para adquirir mais conhecimentos, partilhar experiências e ouvir opiniões de diferentes países e federações”, afirmou. “Estou certo de que a nossa federação irá beneficiar bastante com esta experiência, tal como eu me beneficiarei, em nível pessoal”.
Peter
Rudbaek, diretor técnico da Federação Dinamarquesa de Futebol (DBU), vê a troca
de informações entre as federações como fundamental para o desenvolvimento do
futebol. Segundo ele, é necessário estabelecer padrões elevados comuns e agir
de acordo com eles. “Estes padrões comuns constituem uma excelente oportunidade
de inspiração e parceria entre países”, admitiu.
Com
as 53 federações nacionais da Europa integrando a Convenção de Treinadores da
Uefa, cada instituição de formação de treinadores mostra-se empenhada em
atualizar permanentemente os seus cursos e utilizar as mais modernas
tecnologias nos processos de aprendizagem.
Acima
de tudo, as exigências da Uefa estimulam os atuais níveis de qualidade,
encorajando os países a irem ao encontro dos padrões internacionais dada a
obrigação dos treinadores (que queiram trabalhar em território estrangeiro)
possuírem licenças válidas.
Nico
Romeijn, diretor da formação de treinadores da Federação Holandesa de Futebol
(KNVB), uma das escolas mais tradicionais deste esporte, acredita que o
ambiente futebolístico evoluiu nos últimos dez anos, e os treinadores precisam
estar equipados para dominarem três grandes áreas: 1) Análise dos jogos, 2)
Realização de treinos proveitosos e 3) Gestão da equipe e dos seus elementos
individuais.
Neste constante esforço de melhora, já se discute há alguns anos as estruturas e metodologias relacionadas com cursos que levam à licença A-jovem, também ofertada pela Uefa. De acordo com Romeijn, as estruturas holandesas permitem aos alunos combinar o trabalho prático nos clubes com reuniões residenciais e tarefas específicas: “As tarefas são baseadas no tipo de problemas que é provável virem a encontrar como treinadores, também encorajamos os estudantes a refletirem sobre os seus desempenhos e a traçarem o caminho que querem seguir”, explicou.
Por
fim, é interessante observarmos a análise de Antonin Plachy, diretor da
formação de treinadores da Federação Tcheca de Futebol (CMFS), sobre o contexto
educacional atualmente em vigor naquele país:
“É
preciso combinar uma atmosfera relaxada entre os alunos com as exigências ao
mais alto nível. É importante criar um ambiente no qual os candidatos a
treinadores possam atingir todo o seu potencial, sentindo-se inspirados para
resolverem os problemas da sua própria maneira, ao mesmo tempo em que se
concentram no desenvolvimento de jogadores criativos e talentosos”.
Agora,
e o cenário brasileiro? O país pentacampeão mundial e que não ocupa mais o topo
do ranking de seleções da FIFA vem desenvolvendo qual tipo de trabalho? Nossos
treinadores e gestores de campo estão sendo formados em qual sistema? Será que
existe uma organização que vá de acordo com uma lógica complexa, e considere as
novas tendências do treinamento esportivo aplicado ao futebol e as diversas
capacidades necessárias para exercer essa função?
É o que iremos
debater na próxima parte deste especial.
Comentários
Postar um comentário